A maratona das fusões e aquisições no Brasil

Momentos de crise podem gerar oportunidades para as empresas que se encontram preparadas para crescer no mercado financeiro

Aline Tavares

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Há dois anos, entrei em um grupo de assessoria de corrida. Queria melhorar minha performance, principalmente o condicionamento aeróbico. Mas, obviamente, para isso eu precisaria me preparar e começar do jeito certo.

O objetivo era começar a participar de provas de rua e, um dia, quem sabe, conseguir correr uma meia maratona ou uma maratona completa.

Sabia que para atingir os objetivos não dava para simplesmente sair correndo por aí. Era muito provável que eu fosse ter uma bela lesão ou qualquer coisa do tipo. Uma preparação adequada era essencial. A assessoria me pareceu o caminho mais correto.

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Infelizmente, surgiu uma pandemia no meio do caminho. Meu objetivo de participar de uma prova de rua foi adiado. Mesmo assim, não deixei de treinar.

Fazendo um paralelo com o mundo dos investimentos, a trajetória do meu treinamento na corrida serve para ilustrar o movimento de mercado que está começando a tomar força na Bolsa de Valores.

As crises econômico-financeiras nunca são períodos agradáveis. Como o próprio nome já diz, elas são períodos em que as economias passam por uma retração da atividade.

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A pandemia do novo coronavírus tem mostrado como vem sendo complicada, desde o ano passado, a retomada de uma situação de normalidade econômica.

Entretanto, apesar de todo o impacto da pandemia, retração do PIB, desvalorização cambial e retorno da inflação, as evidências empíricas mostram que as crises geram oportunidades muito significativas, principalmente na área de fusões e aquisições (na sigla em inglês, M&A – mergers and acquisitions). As empresas preparadas e que possuem robustez conseguem aproveitar o momento.

Enquanto a crise penalizava a parte operacional das empresas, do ponto de vista financeiro elas se fortaleciam e preparavam seus caixas para as incertezas à frente – tal qual um treinamento para o dia da prova.

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Passada a fase mais aguda da crise, que reduziu o volume de transações no mundo corporativo, a necessidade de reestruturar os negócios, equilibrar as contas e manter a competitividade levou as empresas que estavam preparadas a começar um movimento muito forte de operações societárias.

O resultado? Registramos um recorde no país de operações de fusões e aquisições.

Segundo dados da consultoria e auditoria PWC, no ano de 2020 foram concretizadas 1.038 transações do tipo, um volume 48% superior à média do mesmo período dos últimos cinco anos (701), com aumento de 14% em relação a 2019 (912).

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Volume histórico de transações*

* Transações divulgadas na imprensa. Não inclui acordos. Fonte: PWC

Quem acompanha de perto o mercado financeiro percebeu que as empresas listadas na Bolsa alongaram o perfil das suas dívidas a taxas mais baixas e fortaleceram seus caixas.

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Elas crescem no vácuo das empresas menores, que provavelmente não vão sobreviver depois da crise ou que estão em situação financeira pior.

O que é ruim para as pequenas empresas se torna oportunidade para as grandes.

Muitos setores precisaram realizar exercícios estratégicos de sobrevivência e, por vezes, o caminho para muitas companhias foi se associar com outra a fim de fortalecer seus negócios.

Além de ser uma solução para as empresas que estão em apuros financeiros devido à crise econômica, também estamos observando que o M&A surge como uma estratégia vencedora entre as grandes companhias que desejam expandir, seja em sua área de atuação, seja buscando a diversificação do portfólio.

Alguns anúncios dos últimos meses que não me deixam mentir: fusão da Localiza e da Unidas (locadoras de automóveis e de gestão de frotas); fusão da Hapvida e do Grupo NotreDame (setor de saúde); aquisição da Hering pelo Grupo Soma (varejo); Carrefour Brasil adquirindo o Grupo Big (setor de supermercados); Lojas Americanas adquirindo a Uni.co (das marcas Puket, Imaginarium, MinD e Lovebrands); dentre muitas outras operações que as empresas listadas na Bolsa estão realizando com empresas menores ou de nicho.

Ou seja, entramos em um período em que vamos escutar cada vez mais anúncios de operações societárias nas empresas de capital aberto.

Naturalmente, veremos que os setores entrarão em movimentos de consolidação. Aliada a isso vai estar a tendência de digitalização das operações, desenvolvimento de novas capacidades, novas plataformas ou de novas áreas de atuação também são foco dessas operações.

E como as companhias ganham com esse movimento? Através das sinergias geradas entre os negócios, como o aumento da participação nos mercados em que atuam (market share), ganhos de escala, eficiência, expertise, por vezes com diversificação de seus portfólios com novos produtos/serviços e até a obtenção de benefícios tributários nas operações.

Em geral, isso tudo é traduzido em geração de valor para as empresas e, consequentemente, para os acionistas. Ou seja, para quem investe na Bolsa, este é um ótimo momento.

Após o conturbado ano de 2020, muitas empresas agora estão em ótima forma, capitalizadas e prontas para as operações societárias do mercado de capitais.

Da mesma maneira, espero que você também tenha se preparado para aproveitar os movimentos, tal como tenho me mantido em dia com meu treinamento.

Porque investir é como maratona: uma jornada longa com altos e baixos, por vezes desgastante, mas recompensadora quando se alcança o objetivo.

Abraços,
Aline Tavares

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Aline Tavares

Aline Tavares é analista de ações da Spiti. Analista CNPI e formada em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), tem MBA em Finanças pelo Ibmec-RJ e MBA de Gestão de Investimentos pela PUC-Rio. Atuou na área de análise fundamentalista da Ágora Corretora e, por quase sete anos, esteve na área de gestão de investimentos do Infraprev, o fundo de pensão da Infraero. Acredita que conhecimento tem que ser compartilhado e, consequentemente, o acesso aos investimentos, democratizado. Tem como missão desmistificar a Bolsa de Valores e mostrar que todo mundo pode, sem medo, investir em ações.