Vagas mais concorridas: inteligência artificial para selecionar candidatos cresce na pandemia

A Gupy tem 20 milhões de usuários em sua base e atende 1.000 empresas de grande porte. Negócio dobrou seu faturamento em 2020

Mariana Fonseca

Mariana Dias, CEO da Gupy (Divulgação)
Mariana Dias, CEO da Gupy (Divulgação)

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SÃO PAULO – Não é de hoje que a inteligência artificial está no radar dos profissionais de recursos humanos – mas ela passou a ganhar contornos de diversidade, após anos de críticas sobre os vieses da seleção de candidatos por robôs.

A pesquisa Deloitte Global Human Capital Trends 2021 mostrou que a inteligência artificial é mais uma cabeça pensante dentro de um “supertime”. A consultoria cita uma pesquisa do Boston Consulting Group, que mostra que uma diversidade acima da média gera uma maior proporção de receita vinda de inovações (45%, ante 28% em times com diversidade abaixo da média).

Algumas startups brasileiras na área de recursos humanos (ou HRTechs) já estão olhando para o potencial da IA no segmento, especialmente sua versão mais diversa. Uma delas é a Gupy, que desenvolveu uma inteligência artificial que ranqueia candidatos e facilita a vida das empresas – mas evitando escolhas enviesadas.

A HRTech tem 20 milhões de usuários em sua base e atende 1.000 empresas de grande porte, como Ambev, Cielo, GPA, Renner e Vivo. A Gupy afirma que sua solução tem 20% de penetração no mercado de grandes empresas, com mais de 5.000 funcionários.

Parte desses clientes vieram em 2020 – um ano marcado pela pandemia do novo coronavírus, e com uma consequente digitalização de processos de recrutamento e seleção. O InfoMoney conversou com Mariana Dias, fundadora e CEO da Gupy, sobre a tecnologia, o crescimento e os próximos passos da HRTech.

Inteligência artificial no RH

A Gupy foi fundada em 2015, mesmo ano em que começou o desenvolvimento de sua inteligência artificial para seleção de candidatos. A falta de uma inteligência artificial que considerasse as nuances da língua portuguesa, como a atribuição de gêneros para pessoas e objetos, fez a startup desenvolver sua própria tecnologia.

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Primeiro, a startup de recursos humanos aplica um teste em cada empresa para extrair o perfil de seus funcionários: fala tanto com quem recebeu promoções quanto com quem foi demitido. O objetivo é traçar um perfil do comportamento adequado à cultura da companhia – por exemplo, um funcionário bastante organizado ou bastante flexível.

Todos os dados coletados pela Gupy passam por um filtro que tira dados de gênero e raça, deixando as palavras apenas em seus radicais. Um funcionário é registrado como “engenheir”, não “engenheiro” ou “engenheira”. O objetivo é ser ético desde sua montagem (ethical by design).

Essa base sem vieses alimenta a inteligência artificial da Gupy, chamada de Gaia. A IA entende e processa diversos algoritmos criados pela Gupy para analisar o significado de cada palavra de um currículo com base no contexto em que elas se inserem. Por exemplo, entender que “programador” e “desenvolvedor” podem ter o mesmo significado. A startup tem um banco de 20 milhões de currículos, que geraram 6 bilhões de palavras analisadas.

O foco da Gupy está em grandes empresas, que têm um grande volume de contratações e precisam otimizar a análise de candidatos. Segundo a Gupy, cada vaga cadastrada em sua plataforma recebe em média 1.000 currículos. Sem um sistema de acompanhamento de vagas, a área de recursos humanos levaria cerca de 50 horas para analisar esses candidatos. O mesmo processo leva 13 horas por meio do ranqueamento de candidatos oferecido pela startup. A porcentagem de contratações vindas de publicações na plataforma é superior a 80%, diz a Gupy.

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“Olhamos para três objetivos: assertividade, agilidade e experiência. Diminuímos o tempo de contratação, mas também ajudamos a encontrar o candidato com maior afinidade com a vaga. Também oferecemos uma melhor experiência tanto para a empresa quanto para o candidato. A plataforma torna o processo mais transparente, e temos um sistema de preenchimento rápido para garantir que a empresa dê feedback a todos os candidatos”, diz Mariana.

Pandemia e contratações digitais

A pandemia do novo coronavírus levou a um aumento nos índices de desemprego, principalmente no segundo e no terceiro trimestre de 2020. O país fechou o último ano com cerca de 13,4 milhões de desempregados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua/IBGE).

“Vimos alta de 220% em pessoas se candidatando na nossa plataforma no último ano, acompanhando a alta do desemprego. Com a crise econômica gerada pela pandemia, muitas empresas reduziram seu volume de contratação. Mesmo assim, as posições publicadas por empresas aumentaram 11 vezes na comparação entre 2019 e 2020. Isso porque elas tiveram de migrar todas as contratações que continuaram para o digital”, explica Mariana.

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O número de empresas atendidas pela Gupy cresceu 80% em 2020, gerando uma alta de 100% no faturamento da startup de recursos humanos. A Gupy dobrou o número de funcionários em 2020, chegando a 260 membros. 40% deles estão na área de tecnologia.

Novos passos para a Gupy

Com o prolongamento da pandemia, a adesão à Gupy continua alta. Em janeiro, foram 5 milhões de inscrições de candidatos e 60 mil posições publicadas por empresas. Em fevereiro, 5,5 milhões de candidatos e pouco mais de 60 mil vagas novamente.

Mariana elenca quatro tendências no mercado de recursos humanos que irão guiar os investimentos da Gupy. A primeira delas é a digitalização do RH. “O recrutamento que fornecemos funciona como uma porta de entrada. Então, intensificaremos essa migração tecnológica”, diz a CEO. “Vamos também continuar investindo no passo seguinte: o Gupy Admissão. Lançada durante a pandemia, essa frente digitaliza toda a documentação do contratado e evita que tenha de levar papéis para a empresa.”

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Uma segunda tendência é a capilaridade de contratação, com a possibilidade de trabalho remoto. “Estamos reforçando nosso banco de talentos para além do Sudeste. O objetivo é que as empresas descubram talentos pelo país”, diz Mariana. A Gupy também irá lançar uma integração com a Hand Talk, plataforma que traduz conteúdo para a língua brasileira de sinais, para incluir pessoas surdas nos processos seletivos.

A terceira tendência é melhorar a experiência dos usuários que não foram contratados. “A inteligência artificial permite processar o número crescente de inscrições por vaga, mas temos de investir ainda mais em tecnologia de feedback. Esses candidatos depois falarão da marca empregadora, então é essencial oferecermos uma boa devolutiva”, explica a CEO.

Por fim, a última tendência é a própria inteligência artificial. “Fomos pioneiros no país ao aplicar inteligência artificial para recrutamento. Agora, temos garantidos assertividade e volume de dados para investir em outras aplicações da IA. Por exemplo, criar ferramentas para as empresas melhorarem suas descrições de vaga ou para os candidatos entenderem melhor qual foi sua avaliação.”

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Para investir nesses movimentos, a Gupy deve continuar contratando. O plano é admitir mais 100 funcionários em 2021. A startup já captou mais de R$ 50 milhões com investidores como Canary, Maya Capital, Oria Capital, Valor Capital Group, Wayra e Yellow Capital. R$ 40 milhões vieram em uma rodada realizada em abril de 2020, em plena pandemia.

“Estamos em aceleração intensa e conversamos com fundos. Ainda podemos temos um grande runway [tempo para queixa de caixa] com esse investimento, mas não deixamos de avaliar oportunidades.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.