Camiseta com “recado” a Bolsonaro e promessa de transição suave: a última tele de resultados de Castello Branco como CEO da Petrobras

CEO disse ainda ter sido acusado injustamente de falta de transparência e que "o preço dos combustíveis ainda é alvo de palpites de jogo de futebol"

Equipe InfoMoney

Roberto Castello Branco com a camiseta com os dizeres Mind the Gap (Foto: Reprodução/Petrobras)
Roberto Castello Branco com a camiseta com os dizeres Mind the Gap (Foto: Reprodução/Petrobras)

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O presidente da Petrobras (PETR3; PETR4), Roberto Castello Branco, se pronunciou nesta quinta-feira (25) pela primeira vez após a intervenção do presidente da República, Jair Bolsonaro, na estatal – ele indicou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para o comando da empresa, em meio a críticas à política de preços de combustíveis da companhia, que seguem a cotação internacional do petróleo.

Ao apresentar a analistas do mercado o resultado da Petrobras no quarto trimestre de 2020, Castello Branco defendeu a política de preços de combustíveis da estatal, a Política de Paridade Internacional (PPI), e afirmou que as decisões sobre o assunto são reflexo do mercado de petróleo e levam em conta princípios da governança. “Ninguém fica sentado em casa aumentando preços, é um trabalho de equipe”, explicou.

Ele disse ter sido acusado injustamente de falta de transparência e que “o preço dos combustíveis ainda é alvo de palpites de jogo de futebol”.

Para o executivo, não há exagero nos preços no Brasil, embora os impostos sejam elevados. “Falo isso baseado em estatísticas com preços de 160 países. A média dos preços do País está abaixo da média global. Mesmo se corrigirmos pela renda per capita, o preços ficam ligeiramente abaixo da média global”, afirmou, na teleconferência.

Castello Branco vestia uma camiseta com a frase “mind the gap”, que significa “cuidado com o vão” e é usada em estações de metrô em cidades de língua inglesa para alertar os passageiros sobre o vão entre o trem e a plataforma. “Gap” também pode se referir a intervalo ou à defasagem entre duas coisas, o que muitos entenderam como um recado para Bolsonaro em meio ao aumento da disparidade dos preços de combustíveis praticados pela Petrobras em relação à cotação internacional. O reajuste do diesel e da gasolina realizado na semana passada para diminuir o “gap” dos preços foi um dos grandes motivos para o governo indicar um novo nome para comandar a estatal.

Mas, ao ser questionado sobre o assunto, ele afirmou que ‘mind the gap’ foi o lema adotado pela diretoria da Petrobras na elaboração do planejamento estratégico da empresa. O compromisso era “fechar o gap/vão” que separa a Petrobras dos seus pares internacionais.

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Ele ainda afirmou: “É surpreendente dedicarmos tanta atenção ao tema da PPI no século 21. Petróleo é commodity, cobrada em dólar, não há como fugir”. “A empresa ainda é muito endividada, em dólar; como conciliar com receita em real?”, comentou executivo, acrescentando que, “se o Brasil quer ser uma economia de mercado, tem que ter economia de mercado”. “Preços abaixo do mercado geram consequências negativas.”

Este ano a Petrobras já reajustou os preços nas suas refinarias quatro vezes. Com isso, diesel e a gasolina acumulam alta de 27,5% e 34,8%, respectivamente, em 2021.

Os números de 2020, divulgados na quarta-feira, 24, mostram que a empresa teve lucro líquido de R$ 59,9 bilhões no últimos três meses do ano, um salto de 635% ante igual período de 2019, resultado muito acima do esperado por analistas e o maior para um trimestre, pelo menos, desde 2008. No acumulado do ano, a empresa conseguiu um resultado positivo, mas bem menor, de R$ 7,1 bilhões.

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“A Petrobras de hoje é melhor do que era um ano atrás”, afirmou Castello Branco. “Nosso compromisso foi terminar (a crise) melhor do que começamos.” Com o resultado, a petroleira conseguiu reverter o prejuízo dos três primeiros trimestres do ano, apagando as perdas causadas pela pandemia de covid-19, que parou a economia e derrubou a demanda por petróleo.

O lucro, no entanto, foi puxado, principalmente, por reversões de baixas contábeis que foram feitas por causa da crise causada pela covid-19, mas puderam ser desfeitas na esteira da retomada da economia mundial.

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Home office

O executivo destacou a adoção do home office por parte dos funcionários da companhia durante a pandemia. “O home office contribuiu não só para diminuir a contaminação pelo coronavírus, mas também contribuiu para reduzir custos e aumentar a produtividade”, disse.

Segundo ele, o home office é uma inovação que o momento exige e “vitorioso é quem sabe mudar”.

Saiba mais sobre o resultado da Petrobras assistindo ao vídeo abaixo: 

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Na semana passada, Bolsonaro criticou o fato de Castello Branco estar trabalhando de casa por causa da covid-19 – o executivo tem mais de 60 anos e faz parte do grupo de risco da doença. “O atual presidente da Petrobras está há 11 meses de casa, sem trabalhar. Trabalha de forma remota. O chefe tem que estar na frente, bem como seus diretores. Isso para mim é inadmissível. Descobri isso faz poucas semanas”, afirmou o presidente.

Dividendos

Castello Branco citou ainda a distribuição de R$ 10,3 bilhões em dividendos, em abril. Segundo ele, o retorno aos acionistas “é muito pobre, mas é o que podemos fazer”.

Mudança de comando na estatal

O executivo afirmou que a transição da sua saída da empresa para a entrada de Silva e Luna “deve ser suave” e que ele estará disponível a ajudar para que assim seja. Ele informou, porém, que não tem informação sobre o processo de transmissão de comando.

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Antes de realizar suas perguntas, analistas de mercado elogiaram o trabalho de Castello Branco e o parabenizaram pelos resultados alcançados.

As consequências de sua saída da presidência da Petrobras, prevista para março, concentrou as perguntas dos especialistas na teleconferência.

Ele afirmou que continuará a torcer por uma trajetória virtuosa da Petrobras, mesmo fora da companhia, e se recusou a fazer comentários sobre o futuro da empresa. “Não devo nem posso opinar, cabe aos que me sucederem”, frisou.

Contudo, reconheceu que os recentes acontecimentos geraram preocupações de investidores a respeito da compra de refinarias. “Quanto aos proponentes para comprar as refinarias, eu vi manifestações de preocupação apenas. Mas, até o momento, não houve nenhuma desistência”, afirmou.

Perguntado, ele informou que a diretoria vai permanecer até o fim do mandato (20 de março) e que vai continuar trabalhando até lá com um forte compromisso com a companhia.

(Com Agência Estado)

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