Ingerência de Bolsonaro na Petrobras divide eleitores, mostra XP/Ipespe

Popularidade do presidente se mantém em 31% após troca na estatal. Maioria defende preços definidos pelo mercado, mas com prazos estabelecidos pelo governo

Marcos Mortari

Presidente Jair Bolsonaro após reunião no Ministério da Economia em Brasília (REUTERS/Ueslei Marcelino)
Presidente Jair Bolsonaro após reunião no Ministério da Economia em Brasília (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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SÃO PAULO – A decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de substituir o comando da Petrobras praticamente dividiu ao meio os eleitores entre apoiadores e críticos. É o que mostra rodada extra da pesquisa XP/Ipespe, realizada nos dias 22 e 23 de fevereiro.

Na última sexta-feira (19), Bolsonaro anunciou a troca do atual presidente da estatal, Roberto Castello Branco, pelo general Joaquim Silva e Luna, que comandava a usina de Itaipu. A decisão ainda precisa ser submetida à análise do conselho de administração da companhia.

De acordo com o levantamento, 70% dos entrevistados tomaram conhecimento da notícia. Deste grupo, 40% dizem que Bolsonaro errou com o movimento, interpretado no mercado financeiro como sinal de alerta de interferência política sobre o funcionamento da estatal – e que levou as ações a uma queda acumulada de 20% em dois pregões.

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Já 38% concordaram com a decisão, ao passo que 23% não manifestaram posição a respeito. A pesquisa XP/Ipespe contou com 800 entrevistas telefônicas de abrangência nacional, conduzidas por operadores. A margem máxima de erro é de 3,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.

Entre os que dizem ter votado em Bolsonaro no segundo turno da corrida presidencial de 2018, o apoio à decisão de trocar o comando da estatal sobe para 62%, contra 18% que dizem não concordar. Já considerando os demais eleitores, os críticos são maioria: 60%, contra 15% de defensores.

O estopim para a troca no comando da Petrobras foi o novo reajuste da companhia sobre os preços dos combustíveis – de 14,7% no diesel e 10% na gasolina. A disparada dos preços fez Bolsonaro zerar a incidência de impostos federais sobre o diesel por dois meses, cedendo à pressão de caminhoneiros, que ameaçavam com a realização de greve.

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Segundo a pesquisa, 41% acreditam que os preços dos combustíveis devem ser definidos pelo mercado, mas que o governo estabeleça prazos para os reajustes. Já 25% defendem decisão pelo mercado sem qualquer interferência do governo. Outros 18% dizem que é o governo quem deve ditar os preços, mesmo que isso levasse a um aumento de impostos em geral.

A pesquisa revelou, ainda, apoio popular a uma postura mais intervencionista do governo na economia. Medidas como a regulação de preços e do comércio entre países são defendidas por 53% da população – 3 pontos percentuais acima do verificado em junho de 2018.

Por outro lado, a resistência a privatizações diminuiu no mesmo comparativo, embora ainda supere o apoio a esse tipo de medida.

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Segundo o levantamento, 59% são contra a venda de empresas estatais – 5 pontos percentuais a menos do que em junho de 2018. Já os favoráveis subiram de 28% para 32% no período.

O levantamento também mostrou que a avaliação do governo do presidente Jair Bolsonaro junto ao eleitorado se manteve praticamente inalterada em comparação com o início do mês.

A atual administração é considerada ótima ou boa por 31% dos entrevistados – 1 ponto percentual acima da registrada em 4 de fevereiro. Já o grupo que avalia negativamente a gestão se manteve em 42%.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.