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SÃO PAULO – O Descomplica anunciou nesta quinta-feira (18) o maior investimento já recebido por uma startup brasileira de educação (ou edtech).
O negócio de ensino pela internet captou um aporte de R$ 450 milhões (US$ 84 milhões) de nomes como o SoftBank, conglomerado japonês de telecomunicações e dono do maior fundo de venture capital (fundos de investimento em capital de risco, que aplicam diretamente em negócios com alto potencial de crescimento) do mundo.
Os recursos servirão para melhorar o produto, contratar funcionários de tecnologia, realizar aquisições e expandir o catálogo de aulas para ensino básico, vestibular, graduação e pós-graduação. O InfoMoney conversou com Marco Fisbhen, fundador do Descomplica, sobre os próximos passos da startup e o futuro da educação pela internet.
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“Entendemos que a faculdade do futuro é digital. Faz sentido para milhões de brasileiros não só em conveniência ou preço, mas também em personalização da educação que é consumida”, diz o fundador.
A empresa foi considerada uma pioneira da tecnologia pelo Fórum Econômico Mundial no último ano. A lista Tech Pioneers reúne anualmente as mais promissoras scaleups, startups que se expandem em pelo menos 20% ao ano. CargoX, The Not Company e Ripio completam as scaleups da América Latina presentes no Tech Pioneers de 2020.
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De aulas em casa ao império da educação pela internet
Antes de criar a própria edtech, Fisbhen era professor de física. A ideia para a Descomplica surgiu quando ele pensou em como dar aulas para além das classes de cursinhos pré-vestibular. Fisbhen começou a gravar aulas em seu apartamento. Essas palestras foram os primeiros vídeos do Descomplica, fundado no final de 2011.
Ao longo dos anos, a edtech foi ampliando seu catálogo de vídeos e conquistando investidores. O Descomplica oferece hoje vídeos em reforço escolar, preparação para vestibulares, concursos públicos, graduação e pós-graduação.
A startup alcança 5 milhões de alunos – os principais canais são as assinaturas no próprio site; aulas em redes sociais como Instagram, TikTok e YouTube; e parcerias para mensalidades subsidiadas por instituições como Claro, Natura e o governo do estado de São Paulo.
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Fisbhen afirma que a educação recebeu maior atenção em 2020. “Costumamos entender o valor de algo quando o perdemos. O Brasil valorizou mais a educação quando conviveu com escolas de portas fechadas. Nós abraçamos o papel de ampliar nosso escopo”, diz o fundador. Por exemplo, o Descomplica incluiu aulas de educação física, nutrição e atendimento psicológico em sua grade de reforço escolar e preparação para o vestibular.
Tais áreas são as principais da edtech, presentes desde sua fundação. Fisbhen afirma que as participações nesses mercados estão consolidadas e que o foco mais recente está em novas verticais: pós-graduação e graduação.
A pós-graduação foi criada em 2019. Só no ano passado, multiplicou por dez o número de alunos, passando de 3 mil para 30 mil. O valor total pago por um ano de curso varia entre R$ 800 e R$ 1 mil, que podem ser divididos em até 12 parcelas.
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Em agosto de 2020, o Descomplica investiu R$ 55 milhões e lançou cursos de graduação credenciados com nota máxima pelo Ministério da Educação (MEC). No primeiro semestre, acumulou mil alunos em cursos de Administração, Ciências Contábeis, Pedagogia e Recursos Humanos. A mensalidade dos cursos de graduação varia entre R$ 199,90 e R$ 219.
“Defendemos uma solução de ensino que é acessada de maneira conveniente, pelo computador ou pelo celular, e que cabe no bolso. Depois de atingirmos a proposta de educação para todos, focamos agora em educação para toda a vida”, diz Fisbhen. “A graduação e a pós-graduação são focadas em temas como gestão moderna e tecnologia, ambos com alta empregabilidade”. Em 2020, a frente de ensino superior representava 30% do faturamento da Descomplica. A expectativa da empresa é que essa participação cresça neste ano e nos próximos.
Futuro das universidades online (e do Descomplica)
O novo investimento no Descomplica começou a ser negociado em setembro de 2020, e foi fechado no começo de 2021. A série E foi oversubscribed – com demanda superior à oferta inicial. “Foi uma rodada bem competitiva. Buscávamos US$ 30 milhões, mas fechamos em US$ 84 milhões. 2020 ensinou que é uma boa se capitalizar caso exista liquidez no mercado, porque a situação pode se tornar mais turbulenta do que o imaginado. Agora, estamos fazendo uma revisão em nosso orçamento”, diz Fisbhen. Anteriormente, a edtech tinha captado US$ 31,1 milhões com investidores – e muitos fundos reinvestiram nesta série mais recente.
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Dois fundos lideraram o aporte série E: o Invus Group e o Latin America Fund/SoftBank. O Invus havia investido no Descomplica em 2018. “É um fundo que está conosco há anos e conhece a empresa de dentro para fora”, diz Fisbhen.
Já o SoftBank faz agora seu primeiro investimento em educação no Brasil. O conglomerado japonês de telecomunicações é dono do maior fundo de venture capital do mundo: o Vision Fund, com US$ 100 bilhões captados. O Latin America Fund também é um fundo do SoftBank, mas voltado apenas para startups da América Latina. São US$ 5 bilhões direcionados para a região.
Além dos líderes desta rodada no Descomplica, outros fundos participantes foram: a Chan Zuckerberg Initiative, movimento por igualdade em áreas básicas criado por Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, e sua esposa; o Valor Capital Group (Gympass, Loft e Tembici), investidor antigo do Descomplica; a Península Participações (Hilab, Olist, Wine.com), private equity de Abilio Diniz; e David Howell Evans (The Edge), guitarrista da banda U2, que já investiu em negócios como o serviço de armazenagem Dropbox.
O Descomplica usará os R$ 450 milhões para três objetivos. O primeiro é investir em produto e tecnologia, melhorando o algoritmo de recomendação de cursos e as ferramentas de estudos em grupo. Os usuários reagem a uma aula e recebem conteúdos adicionais ou convites para sessões de monitoria com outro professor, por exemplo. Já os grupos não dependem de localização, como acontece em uma sala de aula, mas de interesses e dificuldades comuns. “São uma espécie de WhatsApp para a educação”, diz Fisbhen.
A equipe de 100 engenheiros, designers e gerentes de produto da edtech deve dobrar de tamanho e chegar até ao menos 200 pessoas em 2021. O Descomplica tem mais de 600 funcionários e tem 100 vagas abertas atualmente. “Não me surpreendia chegar a mil funcionários até o final deste ano”, completa o fundador.
O segundo objetivo do Descomplica é ampliar o portfólio de cursos. São 300 programas de pós-graduação atualmente, que devem chegar a 500 até o final deste ano. 18 opções de graduação devem se somar às quatro graduações disponíveis atualmente.
O terceiro e último objetivo é realizar aquisições e fusões (M&A). “Estamos em um momento em que faz sentido comprar empresas para melhorar nossos produtos e para crescermos nos segmentos atuais”, diz Fisbhen.
As metas de crescimento no Descomplica focam nas verticais de graduação e de pós-gradução – ainda que a expectativa para a frente de vestibulares seja grande, após a grande abstenção vista no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por conta da pandemia.
A Descomplica afirma já ter 80% do mercado de preparação online para o Enem. Na graduação, a edtech espera chegar a 10 mil alunos em 2021. Na pós-graduação, o plano é alcançar a 100 mil alunos.
A depender dos resultados vistos durante a pandemia, as universidades online não têm data para término de aulas.
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