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Em 2020, o real figurou ficou no grupo das moedas que mais se desvalorizaram entre os países emergentes, mas, ao contrário do que muitos pensam, esse movimento de desvalorização não é recente. Em outras janelas temporais, como comentou Anna Reis, economista da GAP Asset, no Coffee & Stocks de hoje, o real tem uma performance bem ruim em comparação com os pares globais de moedas de países emergentes.
Apesar disso, Reis acredita que existem 3 fatores principais que podem permitir a valorização do real e está com a “pele em risco” nesse trade. Abaixo, os principais trechos:
Comprado em real contra o dólar
A posição é mais comprada em real do que vendida em dólar, porque estamos mais otimistas com o real do que com o enfraquecimento do dólar. A gente sempre tem que falar nessas duas pontas quando o assunto é moeda. Já estamos otimistas com o real há um bom tempo. Temos uma visão de longo prazo, mas sempre olhamos para os gatilhos de curto prazo. No final do ano passado nossa convicção cresceu.
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2021: dólar se fortaleceu no começo do ano, mas vai continuar assim?
Na ponta do dólar, tínhamos uma visão de dólar se enfraquecendo contra os emergentes (onde o real se encaixa) e a achávamos que essa tendência continuaria. Nesse início de ano o movimento de enfraquecimento do dólar parou por uma série de fatores: “blue wave” (Senado do EUA na mão dos democratas), novo pacote apresentado por Joe Biden, etc. Então, com mais estímulos fiscais nos EUA e um ritmo acelerado de vacinação, as expectativas de diferencial de crescimento do país mudam. E o diferencial de crescimento é um dos drivers da moeda na medida em que, se uma economia vai crescer mais, o FED tende a aumentar os juros antes dos outros países e a moeda tende a se fortalecer hoje. Essa é a nossa visão para o dólar, mas acreditamos que o dólar continuará se valorizando.
Gatilho 1: o real ficou muito para trás
Um dos pontos, antes de entrar na parte econômica, é que o real ficou muito para trás em relação as outras moedas. Não é de hoje, mas, se você olhar 2020, desde o início do ano até hoje, o real desvalorizou 35%. Enquanto o rand sul-africano, por exemplo, desvalorizou apenas 9%. O real está muito acima, em termos de movimento, contra o dólar. A primeira motivação para o trade é que o real ficou muito para trás durante um bom tempo e existe espaço para uma valorização.
Gatilho 2: “value trade”
Os fundamentos são o segundo motivo para o trade (comprado em real) é o que a gente chama de “value trade”: tem valor na banda brasileira. Ela está barata. Traduzindo: no equilíbrio, se tivesse só dois países no mundo, a taxa de câmbio deveria acompanhar as inflações. Então, a moeda hoje está num preço que gera projeções para o balanço de pagamentos bastante positivas, e isso significa aumento do fluxo (que ainda não se concretizou) em direção ao Brasil, que fortaleceria o o real.
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Gatilho 3: política monetária
E, por fim, o que fortaleceu nossa visão, é a perspectiva de normalização da política monetária. O real teve uma performance ruim em relação a outras moedas, mas isso não é algo que começou a ocorrer em 2020. Em várias outras janelas de tempo isso também acontece. E a gente está bastante convicto de que a razão disso, a despeito do fiscal, é o patamar dos juros no Brasil. Essa Selic muito baixa está criando uma volatilidade no câmbio e isso deixou o real para trás em relação aos pares globais. Então, com a perspectiva de normalização da política monetária (em bom português, início de alta de juros), que achamos que começa em março, esse problema de desvalorização do real pode ser começar a ser resolvido.
Juro neutro: a Selic pode subir estimulando a economia
Temos uma meta de inflação na faixa de 3% e o Banco Central trabalha com um juro real de 3,5%. Então nosso juro neutro tinha que ser 6,5%. Hoje é 2%. Com inflação nas metas e choque de commodities acontecendo, o estímulo monetário não precisa ser tão forte. Selic a 5% continua bem estimulativa neste cenário. Temos um risco inflacionário crescente e não podemos esquecer que somos um país emergente, e temos nossos problemas estruturais – uma piora nos casos de Covid, por exemplo, pode afetar bastante nossa percepção de risco.