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BRASÍLIA – A poucos dias da eleição para a escolha do novo presidente do Senado e diante de investidas de articuladores da campanha adversária, a candidata Simone Tebet (MDB-MS) batalha para debelar instabilidades dentro de seu próprio partido, que tem reunião nesta quarta-feira para colocar os pingos nos is.
Seu principal oponente na disputa, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), conta com o patrocínio do atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e com o apoio do governo Bolsonaro. Ele já vinha sendo encarado como favorito na disputa, mas movimentações de emissários da campanha e investidas diretas na direção de emedebistas provocou reação da candidatura de Tebet.
Segundo uma fonte, a jogada, que contou com a participação de altas lideranças do DEM em negociações com senadores emedebistas, mudou o cenário e serviu como gota d´água para o MDB lavar sua roupa suja nesta tarde.
Essa fonte relata que a ocasião servirá como um xeque-mate, uma oportunidade para a legenda se posicionar. Parte do MDB negociava com Pacheco já de olho no espaço a ser dividido em caso de vitória do senador mineiro.
Um senador que é eleitor de Simone Tebet disse à Reuters, sob a condição do anonimato, que, na sua avaliação, o MDB só permitiu que Tebet se candidatasse por considerar que ela não tinha condições de vencer.
Para esse parlamentar, que conversou com a Reuters antes das últimas investidas do DEM, Pacheco deve sair vitorioso. Essa versão foi confirmada por outros dois interlocutores.
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O senador e a fonte consideram Alcolumbre um forte cabo eleitoral na disputa. Ambos relatam que o parlamentar costurou uma série de acordos individuais durante seus dois anos de gestão, incluindo cargos, cadeiras e comandos em comissões, deixando os senadores em dívida com o presidente do Senado.
“A principal dificuldade dela é no MDB, está bem dividido, a gente conhece os votos, eles participaram do acerto com o Davi. A tarefa vai ser difícil com ela. Esse desejo de ver o partido protagonista perde para os outros compromissos futuros”, disse.
Um dos acordos costurados nos bastidores inclui o oferecimento de cargos importantes na Mesa Diretora ou em comissões para senadores do próprio MDB de Simone Tebet, relatou uma das fontes. Outra fonte confirmou que chegou a ser oferecida a Primeira-Vice Presidência do Senado ao partido.
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Simone Tebet aposta na tentativa de o MDB retomar o protagonismo no comando do Senado e do Congresso, disse uma fonte aliada dela à Reuters. A tradição, no Senado, era a de utilizar a regra da proporcionalidade, segundo a qual os cargos e posições são distribuídos de acordo com o tamanho de cada bancada.
Mas o MDB, com 16 senadores, perdeu espaço após a derrota para Davi Alcolumbre em 2019 –quando Renan Calheiros (AL) foi o candidato emedebista– na esteira da fragilização do partido em razão de escândalos como a Lava Jato que atingiu expoentes.
Por outro lado, Tebet, atual presidente da poderosa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), também conta com votos de senadores das legendas que oficialmente apoiam Pacheco, sob a promessa de uma gestão autônoma, independente e harmônica com o Palácio do Planalto.
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O líder do bloco parlamentar Vanguarda, Wellington Fagundes (PL-MT), que reúne nove senadores do PL, do DEM e do PSC, decidiu apoiar Rodrigo Pacheco. Fagundes destacou que o PL já havia construído uma “excelente relação” com Pacheco.
A liderança vê como positiva a construção de apoios ao candidato do DEM –tanto com o presidente Jair Bolsonaro, de um lado, quanto com o PT, de outro– embora essa curiosa aliança esteja sendo alvo de críticas nos últimos dias.
“É muito bom porque o presidente tem que representar a todos, quando representa segmentos mais ideológicos”, disse. “É um equilíbrio de o presidente ouvir a todos, inclusive a minoria, tem que dar oportunidade a todos, em voz e voto”, emendou.
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Fagundes não quis fazer um prognóstico sobre a eleição. Disse que Simone Tebet é competente, tem um bom relacionamento, mas disse estar mais alinhado com senadores do grupo Muda Senado.
“Resultado da eleição só depois da eleição. Tem que bater a bateia”, brincou.
Do lado da campanha de Pacheco, fontes que acompanham sua movimentação relatam que o senador mantém as conversas em seu “amplo arco de alianças”. Uma delas chega a afirmar que “não há mais a quem pedir voto” e aposta em uma liderança do senador com folga “bem considerável”.