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Durante toda a minha vida, minha irmã e eu tínhamos gostos muito parecidos em relação a praticamente tudo.
Eram os mesmos gostos tanto para as roupas, sapatos, bolsas, quanto para filmes, videogames, shows e artistas. Mas, como eu disse ali em cima, praticamente tudo não significa tudo.
Algumas coisas obviamente não batiam, como por exemplo sabor preferido de sorvete. E o dela não fazia o menor sentido na minha cabeça. Ela amava tudo que envolvia chocolate (bolo, brigadeiro, doces, barras de chocolate), mas o sorvete ela não tomava de jeito nenhum. Ela preferia qualquer outro sabor.
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Para mim, aquilo era totalmente irracional. Mas, para ela, o gosto do sorvete de chocolate não agradava. E esse item diferente já nos levou a altas discussões sobre o que era melhor. E, obviamente, foram discussões inúteis que não nos levaram a lugar algum.
Da mesma forma, ao longo da minha vida profissional, sempre presenciei inúmeras discussões e debates de gestores sobre duas famosas estratégias de investimento em ações: valor (value) ou crescimento (growth), qual é a melhor? Qual faz mais sentido na sua carteira?
Para iniciar o debate, primeiro vou explicar o que são esses dois conceitos.
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A começar pela estratégia de crescimento (growth): essa filosofia de investimento envolve concentrar esforços em buscar companhias que possuem forte potencial de crescimento, tanto em termos de tamanho das operações da empresa quanto em termos de significância no setor em que atuam. Ou seja, o foco aqui é no que a empresa pode se tornar, e não no que ela é hoje.
Em geral, são companhias que atuam em mercados crescentes, com demandas cada vez maiores de seus produtos e serviços, mas que ainda não mostraram resultados consistentes ou consolidados. Por essa razão, não espere dividendos dessas empresas – e, provavelmente, vai haver uma maior volatilidade de suas ações.
E quando olhamos múltiplos como EV/Ebitda ou Preço/Lucro, elas podem parecer “caras” ou dar entender que os múltiplos estão “esticados”. Nessas características, podemos encaixar aqui os setores ligados, por exemplo, à tecnologia, e-commerce, saúde ou qualquer outro em franca expansão e desenvolvimento.
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Já para a tese de investimentos em valor (value), as características são outras. Investidores dessa filosofia acreditam que vão maximizar seus retornos ao encontrar empresas que estão valendo menos do que o seu valor intrínseco. Ou seja, por alguma assimetria do mercado, as empresas estão com preço abaixo do seu valor justo.
E, em geral, são companhias já consolidadas no mercado em que atuam, possuem menor volatilidade quando comparada às ações de crescimento; não é esperada uma taxa de crescimento exponencial das suas operações, e sim que a cotação de suas ações convirja com seu valor justo (encontrado por meio de modelos de precificação, como o fluxo de caixa descontado, por exemplo).
Adicionalmente, você vai encontrar companhias que possuem múltiplos como Preço/Lucro, Preço/Valor Patrimonial e EV/Ebitda mais baixos que seus pares, o que pode caracterizar “desconto” ou que a empresa está “barata”.
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Nessa categoria de valor, em geral encaixamos setores que são considerados “tradicionais” ou da “velha economia”, ou ainda de setores cíclicos, como bancos, petrolíferas, mineradoras, siderúrgicas, dentre outras.
E, afinal, qual é a melhor filosofia de investimento? Eu acredito que o ideal é ter um pouquinho dos dois mundos.
Para a minha irmã, quando surgiram essas sorveterias italianas que colocam pedaços de brownie no meio do sorvete, foi o ápice. Como ela amava o doce, ao unir o melhor dos dois mundos, acredito que conseguimos chegar a um consenso de que realmente aquela combinação era dos deuses!
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E, para melhor balancear e diversificar uma carteira de investimentos, acredito que um pouco das duas filosofias é o mundo ideal. E, como prova disso, temos um dos maiores gestores de fundos de ações do mundo que comprovou essa teoria: Peter Lynch.
Durante a gestão por 13 anos do Magellan Fund da gestora Fidelity Investments, Lynch teve um retorno médio anualizado de 29,2% ao ano, performando melhor que o índice S&P 500 em quase todas as janelas de comparação.
Mas o que ele fazia? Ele juntava os princípios das duas filosofias de investimentos em sua carteira através do índice PEG Ratio. Esse índice utiliza o múltiplo Preço/Lucro ajustado por uma taxa de crescimento esperada da empresa.
Para o resultado de PEG Ratio maior que 1, segundo Peter Lynch, o investimento nessa ação deveria ser desconsiderado, dado que o potencial de crescimento da companhia já estaria incorporado no preço das ações. Para um PEG Ratio menor que 1, são companhias que devem ser consideradas, já que o crescimento destas está subavaliado pelo mercado.
Ações de valor e de crescimento possuem dinâmicas diferentes.
Focar excessivamente na filosofia de valor pode fazer com que você perca oportunidades nas empresas de crescimento. Focar muito nas empresas de crescimento pode trazer frustrações se você pagar muito caro e o crescimento não vier.
Então, por que não aproveitar a combinação dos dois mundos? Ter ambas as filosofias em sua carteira de investimentos pode te proporcionar equilíbrio e diversificação. E pode te render bons frutos. Peter Lynch é uma das provas de que a união dos dois mundos pode dar muito certo – e o sorvete de chocolate com brownie também.
Abraços,
Aline Tavares
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