Selic: BC tranquiliza mercado sobre perspectivas de longo prazo, mas inflação e fiscal preocupam

Em live do InfoMoney, economistas dizem que tom do comunicado do BC foi mais dovish, e destacam que Selic só deve subir na segunda metade de 2021

Anderson Figo

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SÃO PAULO — O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) manteve nesta quarta-feira (28) a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 2% ao ano — seu menor patamar histórico. O comunicado da decisão tranquilizou os economistas em relação ao chamado forward guidance, as expectativas de longo prazo da autoridade, mas seguem as preocupações em relação ao quadro fiscal do país e a inflação.

“O mercado precisa dessa previsibilidade, o investidor, o empresariado, de que as taxas [de juros] vão continuar baixas. Só que infelizmente por conta desse ruído fiscal todo o investidor ainda fica um pouco receoso de tomar segurança em relação ao forward guidance do BC”, disse Patrícia Braga, estrategista da MAG Investimentos.

“Ruído fiscal a gente tem direto, e isso é péssimo. Depois que o governo resolveu postergar a notícia sobre a criação do novo programa [de ajuda financeira que substituiria o Bolsa Família] para depois das eleições, a gente viu um período de calmaria, mas não de paz porque a gente sabe que o tempo é curto para voltarem a esses assuntos depois das eleições”, completou Patrícia em live do InfoMoney (assista acima).

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Segundo a economista a grande questão é que há dois cenários: o primeiro é que sim o quadro fiscal brasileiro sofreu neste ano por causa da pandemia de coronavírus, mas há a intenção de retomar a austeridade em 2021, e o segundo seria de o quadro geopolítico piorar e forçar o país a sangrar ainda mais o lado fiscal em 2021 por uma eventual segunda onda de Covid-19 que derrubaria a atividade global por mais tempo.

Também participou da live do InfoMoney o economista-chefe da Gauss Capital, Guilherme Attuy, que disse esperar inflação um pouco mais pressionada que a projeção do Banco Central para 2021 e 2022, mas que continua com a perspectiva de aumento da Selic somente e meados do ano que vem, de forma bastante gradual, terminando dezembro de 2021 em 2,5% ao ano.

“Estamos em patamares muito baixos [de juros]. Ainda que o BC não eliminou a possibilidade de novo corte lá na frente se as condições se alterarem, mantido o contexto atual, faz sentido manter a taxa de juros em 2% ao ano, mas começar a subir ao longo de 2021. (…) Nosso cenário é de que o fiscal tende a ser mantido, o teto pode ser questionado, mas será mantido”, disse.

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Teto de gastos

Para Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, o comunicado do BC pós-reunião é, no geral, mais dovish do que o esperado. Ele destacou em nota que o Copom preservou o forward guidance apresentado na reunião de 5 de agosto. Ou seja, o Copom não pretende reduzir o estímulo monetário desde que atendidas condições específicas, e o Copom julga que essas condições continuam se mantendo.

São elas: as expectativas de inflação abaixo da meta no cenário base, o atual regime fiscal, que não foi alterado, e as expectativas de inflação de longo prazo, que devem permanecer bem ancoradas. “Vale ressaltar que, apesar da crescente apreensão do mercado com a dinâmica fiscal de curto e médio prazos, os riscos para a principal âncora fiscal (teto de gastos), o progresso lento nas principais reformas fiscais no Congresso e as pressões de financiamento do Tesouro Federal, o Copom segue afirmando que o atual regime fiscal não mudou. Mas também poderia ter reconhecido que o risco para o regime fiscal está aumentando”, avaliou o economista.

Ramos espera que o Copom deixe a taxa Selic inalterada em 2% até o segundo semestre de 2021 e, então, siga uma trajetória de “normalização gradual”. No entanto, ele citou o risco de um início do ciclo de normalização monetária mais cedo do que sua projeção, dado o atual nível excepcionalmente baixo de taxas nominais e reais e o fato de que, embora bem ancorada, a inflação está frequentemente sujeita a grandes choques idiossincráticos que podem mudar rapidamente a perspectiva do BC.

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“Além disso, questões não resolvidas sobre a sustentabilidade fiscal de médio prazo, dinâmica/volatilidade do mercado de câmbio e fluxos da conta de capital, e amplas considerações sobre gestão de risco financeiro poderiam levar o Copom, em nome da prudência, a remover parte do atual nível excepcional de acomodação monetária mais rapidamente”, completou.

Pesquisa da XP Investimentos com 95 investidores institucionais realizada após a divulgação da decisão do Copom nesta quarta-feira mostrou que para 83% dos respondentes o comunicado do BC foi dovish. Para 34%, o BC só vai começar a subir a Selic no terceiro trimestre de 2021 (na pesquisa anterior eram 26%).

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.