SÃO PAULO – O investidor brasileiro poderá contar, a partir de setembro, com mais de 500 opções para aplicar parte de seus recursos no exterior. E a lista tende a aumentar nos próximos anos.
A decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de liberar o acesso de Brazilian Depositary Receipts (BDRs) Não Patrocinados, até então restrito a investidores qualificados, a qualquer pessoa interessada no produto amplia de vez o leque de alternativas para a diversificação de recursos.
O InfoMoney discutiu as mudanças nas regras e os impactos na vida do investidor em live nesta quarta-feira (12). Para acessá-la, basta clicar no link acima.
As iniciativas vêm bem a calhar, já que, com juros na casa dos 2% ao ano, o brasileiro terá que se abrir cada vez mais para investimentos mais arrojados, em busca de retornos atrativos.
“A demanda por investimento qualificado tem aumentado muito. Acabou-se o tempo de correlações mais óbvias no mercado e os BDRs vão abrir esse caminho para o investidor se posicionar fora e buscar também ativos não correlacionados”, destaca Danilo Cápua, sócio responsável pela área de renda variável da Guelt Investimentos.
Ele assinala que, com as mudanças, caberá aos fundos também serem mais eficientes em sua gestão.
Diante da forte valorização recente do dólar em relação ao real, produtos com foco em BDRs têm se destacado nas carteiras.
É o caso do fundo de BDRs da Western Asset, que avançou 63,4% nos últimos 12 meses até julho, e do Caixa FIA Institucional Bdr Nível I, com alta de 55,5% no período.
De toda forma, mesmo com a maior acessibilidade aos BDRs, cabe ao investidor ter um trabalho apurado de seleção, da mesma forma como faz com suas ações no Brasil.
Fundos contam com equipes dedicadas para buscar as assimetrias de mercado. Ao investir sozinho, o investidor pessoa física precisa ter em mente os riscos aos quais está se expondo, referentes às empresas selecionadas e ao próprio mercado.
E vale lembrar que a variação cambial também é um fator a ser incorporado na decisão, dado que o investidor fica exposto às oscilações dos papéis e de moeda.
As novas regras da CVM ainda vão permitir ao investidor ter acesso a BDRs lastreados em títulos de dívida, que hoje são basicamente acessados via fundos de renda fixa com alocação internacional, com exposições ainda restritas a até 20% na cena externa, no caso de produtos para o varejo.
Fundos passivos também terão maior concorrência com a possibilidade de lançamentos de BDR lastreados em cotas de fundos de índice (ETFs) admitidas à negociação no exterior.
Hoje o investidor se expõe a variação de índices como o americano S&P 500 por meio de ETFs, como o IVVB11 e o SPXI11, que têm taxas de administração baixas, respectivamente de 0,23% e 0,21% ao ano.
Carlos Takahashi, presidente da BlackRock Brasil, vê as novas regras como bastante positivas para o mercado e para o acesso do investidor, além de oportuno, por conta do novo contexto do juro básico brasileiro.
A gestora, que tem uma atuação forte em ETFs no Brasil, vê a possibilidade de contar com BDRs lastreados em novos fundos de índice, atualmente limitados ao mercado americano.
“A medida abre uma perspectiva muito boa para trazermos ETFs globais para o mercado local através desse mecanismo”, diz Takahashi, ressaltando que a estrutura pode ser ainda mais barata, dado que os ETFs já estarão constituídos.
A mudança, assinala o presidente, vem em boa hora. “O investidor precisa diversificar cada vez mais seu portfólio e precisa ter instrumentos para isso.”
Horizontes expandidos para o investidor
Além de poder em breve começar a aplicar em ações de grandes empresas estrangeiras, especialmente americanas, o investidor poderá compor sua carteira com novas teses, de setores pouco desenvolvidos no Brasil.
Nessa seara, empresas de tecnologia, como Apple, Amazon e Microsoft, se tornam mais acessíveis, assim como ações de grupos como Berkshire Hathaway (de Warren Buffett), a varejista americana Costco e o serviço de streaming Netflix.
Leia também:
• BDRs: para que servem e como investir nos recibos de ações estrangeiras
• Como investir no exterior: com ou sem hedge cambial?
Em paralelo, depois da frustração de ser excluído de alguns dos IPOs mais desejados dos últimos tempos, realizados em bolsas americanas, o investidor também poderá participar das próximas ofertas públicas, além de negociar as ações das companhias já listadas no exterior.
Comprar papéis da Stone, da XP, da PagSeguro, da Afya e da Arco Educação será, em breve, uma realidade.
Tudo depende agora de questões técnicas, de operacionalização do produto para o investidor de varejo pela B3, com aprovações da CVM.
O diretor financeiro da XP Inc., Bruno Constantino, disse hoje que a empresa quer que seus recibos sejam emitidos na B3 “o quanto antes”.
“O ponto principal é que poderemos ter BDRs de ativos de várias empresas, inclusive das nossas ações. Essa mudança da CVM vai dar facilidade ao investidor brasileiro para comprar ativos no exterior e com variação cambial”, afirmou Constatino, ao InfoMoney.
Oferta ampla, liquidez concentrada
Em junho, existiam 552 BDRs Não Patrocinados na B3. A negociação dos papéis, contudo, está concentrada em poucos nomes.
De acordo com o último balanço do segmento, em 2020 até maio, os BDRs da Amazon foram responsáveis por 18,6% do volume total negociado, seguido pela Apple, com 14,5%, pela Berkshire, com 10,3%, e pela Comcast, com 7,25%.
Dessa forma, apenas quatro produtos respondiam por metade das negociações no ano.
E diante das restrições para investir diretamente, a pessoa física tinha pouca participação no mercado, com apenas 0,12% do volume negociado no ano. A maior parte era representada por investidores estrangeiros (com 49,7% do total) e por institucionais, com 45,1%.
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