Nome completo: | Abilio dos Santos Diniz |
Ocupação: | Empresário |
Local de nascimento: | São Paulo, SP |
Data de nascimento: | 28 de dezembro de 1936 |
Data de falecimento: | 18 de fevereiro de 2024 |
Fortuna: | R$ 9,9 bilhões* |
O empresário Abilio Diniz morreu neste domingo (18), aos 87 anos, em São Paulo. Abilio estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein, com um quadro de pneumonia. O empresário começou a passar mal durante uma viagem aos Estados Unidos e voltou ao Brasil às pressas.
“É com extremo pesar que a família Diniz informa o falecimento de Abilio Diniz aos 87 anos neste domingo, 18 de fevereiro de 2024, vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite. O empresário deixa cinco filhos, esposa, netos e bisnetos, e irá ao encontro do seu filho João Paulo, falecido em 2022. Desde já, a família agradece a todas as mensagens de apoio e carinho”, diz a nota da família.
Abilio Diniz construiu um dos maiores grupos varejistas do Brasil, o Grupo Pão de Açúcar (GPA), e foi um dos homens mais ricos do país, enfrentando crises econômicas, disputas familiares, a chegada de concorrentes estrangeiros e até um sequestro.
Quem é Abilio Diniz
Abilio Diniz queria ser professor, mas acabou adiando o sonho. Foi seduzido pelo plano do pai, um imigrante português, de abrir um supermercado.
Não é possível contar a história do varejo brasileiro sem falar em Abilio, o homem que transformou o empreendimento da família no império do Pão de Açúcar, consolidando no país estratégias vindas do exterior, como hipermercados e esteiras rolantes para carrinhos.
De temperamento forte e agressivo, travou duas grandes batalhas societárias durante sua longa carreira empresarial.
A primeira aconteceu dentro de casa, contra seus irmãos e sua mãe, nos anos 1990. Saiu vitorioso, tornando-se sócio majoritário na empresa da família, mas viu as relações com seus parentes ficarem irremediavelmente abaladas.
Na batalha seguinte, foi derrotado pela força, estratégia e disciplina do gigante francês Casino, que executou sem alterações o contrato assinado por Diniz, que foi obrigado a passar o controle do Pão de Açúcar para seu sócio.
Abilio deixou o Pão de Açúcar com quase 80 anos mas, em vez de se aposentar e curtir a vida, o pai de seis filhos comprou uma parcela relevante no Carrefour – tanto na filial brasileira, quanto no global – e embarcou no desafio de tocar a BRF, empresa na qual chegou a possuir quase R$ 2 bilhões investidos.
Religioso e espiritual, Abilio também passou a investir na disseminação de práticas saudáveis de vida, com o lançamento do Plenæ, uma plataforma de conteúdo sobre qualidade de vida e longevidade, além de escrever um best-seller sobre o assunto e gravar lives e podcast relacionados ao bem estar.
São-paulino fervoroso e apaixonado por esportes, Abilio manteve até o fim da vida uma rotina rígida de exercícios e guardava com carinho seus prêmios de uma série de modalidades nas quais competiu profissionalmente, como automobilismo, polo e motonáutica.
Família e formação
O bilionário Abilio Diniz e seu porte atlético incomum para um octogenário nada lembravam a sua infância no bairro paulistano do Paraíso. Abilio era o primogênito de Valentim e Floripes, um casal de origem portuguesa que teve seu primeiro filho morando no fundo da mercearia da família.
Valentim (ou seu Santos, como ele se tornou conhecido) deixou Portugal em 1929, aos 16 anos, para tentar a vida no Brasil. Embarcou na terceira classe de um navio para uma viagem de duas semanas rumo à São Paulo, com uma parada no Rio de Janeiro – o jovem ficou maravilhado com a vista do morro Pão de Açúcar.
Na capital paulista, Valentim arrumou o emprego de balconista no mercado Real Barateiro. Além do primeiro contato com o varejo, a rotina de trabalho também lhe apresentou Floripes, uma cliente do mercado, com quem seu Santos iria se casar em 1936.
O ano marcou também a guinada empreendedora de Valentim, que montou uma mercearia, e o nascimento do primogênito Abilio. Com Floripes, teve mais cinco filhos: Alcides, Arnaldo, Vera Lucia, Sonia e Lucília.
Abilio não era popular. De baixa estatura e acima do peso, era o saco de pancadas preferido de alguns de seus colegas do colégio Anglo-Latino. Para escapar da perseguição, seu pai o incentivou a aprender a se defender. O garoto se matriculou em aulas de boxe, judô, karatê e capoeira. Assim, acabou descobrindo a paixão por esportes, que durou até o fim da vida.
A piscina e a academia eram sua válvula de escape para o estresse do dia a dia e o ajudavam a cultivar um porte físico invejável, exibido na capa da revista Veja quando já se aproximava dos 70 anos. São-paulino, Abilio não perdia nenhum jogo do seu time de coração e era ativo na vida política do clube. Além disso, manteve durante anos um blog sobre futebol.
Da mãe, herdou o lado espiritual: o empresário mantinha sua fé ativa frequentando semanalmente a missa e indo todo dia 22 até a igreja Santa Rita de Cássia.
Do pai, recebeu o amor pelo empreendedorismo. Estudando Administração de Empresas na Fundação Getulio Vargas e, aproveitando que a vida financeira da família havia melhorado, queria engatar uma pós-graduação na Universidade de Michigan e virar professor. Uma conversa com o pai mudaria o seu destino – e o do varejo brasileiro.
Trajetória de empreendedor
Seu Santos sempre pensou grande. Após abrir o mercado, comprou uma padaria e entrou no mercado imobiliário, com a construção de um pequeno prédio de oito apartamentos na avenida Brigadeiro Luiz Antônio, em São Paulo. No térreo, abriu uma doceria e batizou com o nome da primeira imagem que teve do Brasil: Pão de Açúcar. Mas ele não queria parar por aí.
Enquanto o comum no Brasil era o modelo de balcão, com vendedores que buscam produtos para os clientes, a ideia de seu Santos era criar um supermercado que usasse o conceito de autosserviço. E chamou o primogênito para ajudá-lo.
Em seu último ano na FGV, Abilio abandonou o projeto de ser professor – por hora – e inaugurou, com os pais, o primeiro supermercado Pão de Açúcar, em abril de 1959.
Na FGV, além do conhecimento e do diploma, Abilio também colecionou amigos, recrutou executivos e conheceu sua primeira esposa. Casou-se com Maria Auriluce em 1960 e aproveitou a lua de mel no exterior para fazer benchmark de supermercados.
Comprar para crescer rapidamente
Quatro anos após a inauguração da primeira unidade, a família Diniz abriu o segundo Pão de Açúcar e embarcou em uma estratégia de crescimento acelerado, fechando a década com mais de sessenta lojas espalhadas por São Paulo e outras 16 cidades. O primeiro hipermercado viria no começo da década de 1970, sob a bandeira Jumbo.
Capitalizado e com fôlego, Abilio encabeçou uma consolidação do setor varejista com a aquisição de diversos concorrentes ao longo dos anos seguintes como a Peg-Pag e o Sirva-se.
Mas o grande salto veio com a aquisição a Eletroradiobraz, segunda maior rede de supermercados do país, em uma jogada articulada pelo governo para evitar a quebra da endividada e ineficiente empresa.
Para Abilio, uma das coisas mais importantes para a rede era a localização das lojas. Por isso, para definir a abertura de um ponto, ele gastava muita sola de sapato – e combustível de avião – para conhecer pessoalmente as regiões brasileiras, entendendo o hábito dos pedestres e o fluxo de veículos.
Outro fator importante era a formação de seus funcionários. Assim, ainda na década de 1970, Abilio criou um dos primeiros programas de trainee do Brasil.
Brasília e a política como válvula de escape
Se o negócio ia de vento em popa, com o Pão de Açúcar operando mais de 150 lojas e 15 mil empregados, o ambiente familiar ruía.
Seus irmãos Alcides e Arnaldo, que lideravam as áreas de operação e comercial, começaram a nutrir divergências em relação ao primogênito e questionar a divisão acionária. Enquanto cada um dos filhos recebeu 8% – e as filhas apenas 2% – Abilio detinha 16% da companhia. O clima entre os irmãos azedou.
Alcides e Arnaldo ganharam o apoio da mãe, Floripes, e das irmãs. Isolado, Abilio contava com a vontade do pai de contornar a situação. Na década de 1980, a disputa afetou o negócio, que já sofria com os planos econômicos, o aumento de custos, a proibição dos reajustes de preços e a fama de ser um mercado de preços altos.
O clima de guerra entre os irmãos dentro da empresa se intensificou em 1987. Após o Pão de Açúcar passar todos os meses desse ano no vermelho, seu Santos pediu que Abilio voltasse a se envolver mais com o negócio.
Nos anos anteriores, Abilio havia dedicado boa parte de seu tempo e esforço ao Conselho Monetário Nacional (CMN). Além do prestígio de sentar na mesma mesa dos grandes empresários e políticos nacionais, Brasília tornou-se uma válvula de escape de Abilio para as brigas entre os irmãos. Da capital brasileira, ele acompanhou a derrocada da empresa, até chegar o pedido de ajuda de seu pai.
Com a volta de Abilio, os executivos da companhia se viram no meio da disputa entre os irmãos: uma hora, ouviam instruções de Alcides para ignorar as ordens de Abilio, e na hora seguinte, instruções de Abilio para ignorar as ordens de Alcides.
As discussões públicas entre os irmãos tornaram-se comuns. Em 1988, após sucessivas tentativas fracassadas de reconciliação, Alcides vendeu seus 8% de participação na empresa por US$ 120 milhões.
Mas os negócios não iam bem. Com a falência quase certa, Itaú, Unibanco, Bradesco e outros bancos negaram pedidos de empréstimos. Fornecedores como Nestlé e Unilever pararam de entregar produtos, após sucessivos calotes.
Sem saída, seu Santos e Abilio colocaram o Pão de Açúcar à venda. Mas não houve interessados. O plano B era declarar falência. Quando o pedido de concordata estava pronto para ser encaminhado à Justiça, Abilio tentou uma última tacada: reduzir drasticamente a empresa.
Sentado na presidência de um colosso, Abilio comandou uma drástica retomada da empresa. E cortar na própria carne não foi nada fácil. O empresário vendeu a imponente sede, chamada de Palácio de Cristal, e voltou para o pequeno edifício construído por seu pai na avenida Brigadeiro Luiz Antônio. Reduziu o número de lojas de 626 para 262 e cortou os funcionários de 45 mil para 17 mil.
Para Abilio, a década de 1980 também trouxe o primeiro divórcio, após 26 anos de casado, o início do relacionamento de 13 anos com Rosana Sassi e o pior trauma da sua vida: um sequestro que durou seis dias e começou em dezembro de 1989, quando o carro de Abilio foi abordado no caminho do trabalho.
No final dos anos 1980, o sequestro de empresários havia se tornando um crime frequente em São Paulo. Mas Abilio acreditava que seu conhecimento de artes marciais e a pistola que carregava o protegeriam. Nada disso foi suficiente para deter os dez sequestradores, que só o libertaram de um cativeiro de 5 metros quadrados após uma longa negociação com a polícia. A dura provação pessoal foi tratada com remédios, terapia e uma equipe de seguranças.
Mas a fase mais dura de sua jornada empresarial ainda estava por vir.
A retomada
O choque de gestão no Pão de Açúcar deu resultado: a empresa registrou lucro no balanço de 1991. Com a venda de 80% da operação portuguesa, por US$ 320 milhões, a empresa pagou suas dívidas. E Abilio separou uma parte do capital para tentar cortar o mal que corroeu o Pão de Açúcar: comprar a parcela restante nas mãos dos irmãos.
A lavagem de roupa suja da família chegou à Justiça, com um processo movido por Floripes contra o marido e o primogênito. O acordo só veio no fim de 1993, quando Abilio assumiu 51,5% da empresa. Seus pais ficaram com 36,5% e Lucília seguiu com os 12% restantes. Arnaldo, Sonia e Vera venderam suas participações.
Com a casa organizada, Abilio se preparou para fazer frente aos gigantes internacionais Carrefour e Walmart, que cresciam no país. E para isso precisaria de caixa.
A chegada do Casino
Em outubro de 1995, O Grupo Pão de Açúcar fez seu IPO na bolsa de São Paulo, levantando US$ 112 milhões, seguido por uma emissão em Nova York, dois anos depois, que colocaram mais US$ 172 milhões no caixa da empresa.
Capitalizado, era a hora de o Pão de Açúcar ir às compras e retomar a estratégia de crescimento e consolidação do setor, que havia feito a empresa se tornar a maior do Brasil em seu segmento.
O Pão de Açúcar passou a comprar diversas redes familiares em dificuldades, usando sempre a mesma estratégia: adquirir o ponto, pagando 1,5% da receita da loja como aluguel pelo imóvel e o terreno, em um contrato de longo prazo. Assim, nomes como Mambo, Pamplona e Barateiro foram convertidos em lojas do Pão de Açúcar.
Após a oferta de ações, Abilio procurou um parceiro estratégico que fizesse um novo aporte na empresa. A ideia era ter um varejista internacional com apetite para ser minoritário no Pão de Açúcar. O empresário engatou conversas com Auchan, Carrefour e Walmart, mas foi com o Casino que o acordo vingou. A rede francesa comprou 24,5% do Pão de Açúcar, por US$ 854 milhões, em agosto de 1999.
Os anos após o acordo foram de sucesso nos negócios, com a retomada da liderança do varejo e crescimento acelerado. Chegava então a hora de Abilio pensar no futuro. Mais especificamente em sua sucessão.
A próxima geração Diniz
Menos de uma década depois de ter resolvido a longa e feroz disputa com sua mãe e irmãos, Abilio queria evitar que o mesmo acontecesse entre seus filhos. Em 2002, orientado por um especialista, o empresário reuniu a família para traçar os papéis dos sucessores e o futuro da empresa.
Dos seus seis filhos, os dois mais velhos – Ana Maria e João Paulo – chegaram a trabalhar no dia a dia da empresa.
Ana, formada em Administração de Empresas pela FAAP, fez um estágio no Pão de Açúcar e assumiu uma gerência. Em busca de um voo solo, acabou trabalhando como repórter da revista Exame e abriu uma empresa de comunicação.
Já João Paulo, influenciado pelo pai, se formou em administração pela FGV e se dedicou aos esportes, acumulando medalhas em competições de tênis, polo e triatlo. No Pão de Açúcar, começou nas lojas de conveniência que a empresa tinha em parceria com a Shell.
Nenhum deles ficaria à frente do Pão de Açúcar. A solução para evitar uma nova guerra familiar foi profissionalizar a gestão. Abilio sairia da presidência para o conselho. Augusto Cruz, então vice-presidente de finanças, assumiria o comando. E todos os filhos deixariam suas posições executivas, podendo participar apenas como conselheiros ou dentro de comitês.
Fora do dia a dia do Pão de Açúcar, Ana Maria iniciou a operação brasileira da consultoria Axialent, com Beto Sicupira de sócio, assegurando a empresa do pai como um dos clientes. João Paulo montou a holding Componente e investia em empresas como a rede de academias Bodytech até morrer em 2022, após um mal súbito.
Os outros dois filhos de Abilio com Auriluce tiveram uma vida longe do Pão de Açúcar.
Adriana não se envolveu com os negócios da família e leva uma vida discreta. Já Pedro Paulo, o caçula, ficou conhecido ao se tornar piloto da Fórmula 1, em 1995, enquanto os fãs brasileiros buscavam um novo nome no esporte após a morte de Ayrton Senna no ano anterior.
Com uma sequência de resultados ruins, Pedro Paulo abandonou a categoria em 2001 para investir em uma equipe em parceria com piloto Alain Prost, organizar a Fórmula Renault no Brasil e abrir o leque de investimentos como sócio de uma pousada em Fernando de Noronha com Luciano Huck. Hoje, ele se dedica à criação de produtos orgânicos na Fazenda da Toca, que é de propriedade da família Diniz.
Abilio ainda possui mais dois filhos com Geyze Marchesi, com quem se casou em 2004: Rafaela, que nasceu em 2006 e Miguel, de 2009.
Um novo inimigo
O desenho da nova empresa sem os Diniz no comando não durou muito. A presença eclipsante – e intrometida – de Abilio no dia a dia ajudou a ceifar dois CEOs: Antonio Cruz deixou o Pão de Açúcar em 2005 e seu sucessor, Cássio Casseb, em 2007. Cláudio Galeazzi assumiu a companhia para uma reorganização, deixando o cargo em 2010.
Naquela época, ele conduzia uma nova reorganização da sociedade do Pão de Açúcar. O Casino havia feito um novo aporte de US$ 890 milhões em 2005, elevando de 25% para 34% sua parcela na empresa.
Para Abilio, o capital era bem-vindo para saldar dívidas de novas aquisições, como a rede Sendas, líder do mercado no Rio de Janeiro, comprada em 2003. O dinheiro também também ajudaria dar liquidez às ações detidas por seu pai e sua irmã, facilitando um novo processo sucessório.
Mas o contrato com o Casino tinha uma cláusula importante: previa que Abilio renunciaria ao controle sobre o Pão de Açúcar em 2012, para que a francesa se tornasse majoritária, seguindo como presidente do conselho enquanto estivesse apto para o cargo. Assinar esse acordo, segundo Abilio, foi o maior erro da sua vida profissional.
Enquanto a data fatal não chegava, Abilio mexia suas peças: arrematou outras redes como o atacarejo Assaí e fez a maior transação do varejo brasileiro, ao comprar as redes de eletrodomésticos Ponto Frio e as Casas Bahia, criando a Via Varejo.
Assim, o Pão de Açúcar virou um colosso com 1,8 mil lojas e quase 140 mil funcionários, registrando faturamento maior do que Carrefour e Walmart somados.
Enquanto isso, Abilio negociava com Jean-Charles Naouri, CEO do Casino, uma alternativa para que ele não perdesse o controle da companhia. O empresário chegou a oferecer a transferência de suas ações do Pão de Açúcar para papéis da controladora do Casino, argumentando que o cenário da empresa e do país havia mudado. Mas todas as propostas de Abilio foram rejeitadas por Naouri.
Por outro lado, e discretamente, Abilio negociava para que um novo investidor, o Carrefour, principal concorrente do Casino, aportasse na empresa em um acordo que diluiria a participação dos sócios e evitaria a tomada de controle pelo Casino. Mas a negociação acabou se tornando pública em 2011, arruinando completamente a relação entre Abilio e Naouri, que se sentiu traído e perdeu a confiança em seu sócio.
Abilio deixa o Pão de Açúcar
A guerra entre os sócios foi travada em praça pública. O reservado Naouri passou a vir com o Brasil com frequência para se reunir com presidentes de bancos, empresários e representantes do governo, passando o recado de que os brasileiros precisavam respeitar os contratos. Abilio foi isolado.
Desconfiado, Naouri rejeitou propostas, que chegavam a envolver até a cisão da empresa. Com os sócios em pé de guerra, Abilio deixou a presidência do conselho da Wilkes – controladora do Pão de Açúcar – para o francês em junho de 2012. Mas, mesmo fora do comando, Abilio não desistiu de retomar a empresa, abrindo um processo de arbitragem contra o Casino.
O acordo de paz só foi selado em setembro de 2013, após anos de brigas nas reuniões do conselho, vazamentos para a imprensa, inúmeras reuniões de advogados e batalhas travada entre grandes empresas de relações públicas pelo controle da narrativa.
Abilio converteu suas ações na holding do Pão de Açúcar em preferenciais, sem direito a voto, e deixou o cargo de presidente do conselho. A troca de papéis lhe rendeu cerca de R$ 160 milhões, prêmio que Naouri aceitou pagar para se ver livre do sócio – e bem menos do que os estimados R$ 500 milhões que ambos já haviam gastado na disputa – um valor que poderia se multiplicar na arbitragem que estava a caminho.
Parar nunca foi uma opção
A convidativa ideia de uma aposentadoria tranquila ao lado da mulher e os filhos recém-nascidos não estava nos planos do quase octogenário executivo. Ainda em litígio com os franceses, Abilio topou o desafio de comandar a BRF, a gigante de proteína animal.
Abilio chegou à BRF após um convite da gestora Tarpon, investidora da companhia, que tinha passado também pelo Pão de Açúcar. O empresário usou a Península, gestora criada por ele em 2006, para comprar quase R$ 2 bilhões em papéis da BRF.
Abilio chamou Galeazzi para comandar a reestruturação da empresa, demitindo mais de dois mil funcionários e dez dos 12 vice-presidentes, se desfez da área de carne bovina em negociação com a Minerva e da área de lácteos, que vendeu à Lactalis. Abilio deixaria a presidência do conselho da BRF em 2018, após um ano turbulento de prejuízos para a companhia e o avanço da Operação Carne Fraca.
O antigo namoro com o Carrefour foi retomado após o fim do litígio com o Casino. Em 2014, a Península passou a comprar ações do Carrefour na França e fechou um acordo para arrematar 10% das operações do varejista no Brasil, além de opções para fazer novos aportes.
Com o IPO da empresa, Abilio foi diluído e passou a deter 8,6% da companhia, assegurando assentos no conselho de administração no Brasil e, 12% dos papeis e assento no conselho na matriz francesa.
Nos últimos anos, o empresário se dedicou à presidência do Conselho de Administração da Península Participações e conselheiro do Carrefour. Também se dedicou ao Plenae, hub de conteúdo sobre bem-estar, longevidade e qualidade de vida.
Filantropia
Braço de filantropia de sua gestora, o Instituto Península desenvolve iniciativas para melhorar a educação brasileira.
Entre as atividades estão a faculdade Singularidades e a plataforma Vivescer, voltados para formação de professores e profissionais na área de educação, com bolsas de estudo para jovens de baixa renda. Os professores também recebem capacitação e materiais para desenvolver a prática esportiva nas escolas.
No esporte, Abilio também investia em um núcleo de alto rendimento para atletas de diferentes modalidades e no incentivo a treinamento de atletas de base.
Em 2010, lançou o curso Liderança 360º, na FGV, para identificar e exercitar lideranças entre jovens, ajudando-os traçar planos de ação para suas carreiras. Abilio ministrava pessoalmente algumas das aulas.
Além de ter realizado seu sonho de criança – ser professor – Abilio escreveu dois livros que acabaram se tornando best sellers: Caminhos e Escolhas (2004) e Novos Caminhos, Novas Escolhas (2016). Em ambos, relata experiências marcantes de sua vida e como superou os altos e baixos que marcaram sua trajetória.
You must be logged in to post a comment.