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Uma crise grave, mas repleta de oportunidades. É assim que Gustavo Heilberg, gestor da HIX Capital, vê a tempestade pela qual os mercados têm passado nas últimas semanas.
Durante entrevista concedida ao analista Thiago Salomão no Instagram do Stock Pickers nesta quarta-feira (25), Heilberg falou das diferenças entre a crise que vivemos e as anteriores, e revelou as mudanças realizadas na carteira do fundo nos últimos dias.
A transmissão faz parte do quadro Coffee & Stocks, uma série de conversas com alguns dos principais gestores do país, que vai ao ar todos os dias, às 7h15, no Instagram do Stock Pickers.
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“Estamos acostumados a crises que se alastraram pelo mundo através do mercado financeiro e que demoraram algum tempo para chegar na economia real. Dessa vez, os empresários estão tão desesperados quanto o mercado financeiro, porque nunca vimos uma situação como essa de paralisação total”, afirmou.
Segundo ele, essa preocupação generalizada tem dificultado o trabalho de gestão, já que o diálogo com os empresários faz parte de seu processo de investimento. “É comum você ver pânico no mercado, mas não tão comum ver pânico na economia real. Está ficando cada vez mais claro que, pelo menos por enquanto, o shutdown é a melhor solução que temos, mas isso está trazendo apreensão para os empresários”, disse.
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O combate à pandemia do novo coronavírus fez com que o governo do Estado de São Paulo estabelecesse quarentena por ao menos 15 dias em todas as 645 cidades do estado a registrar casos e mortes.
A medida também foi tomada pela administração de outros municípios do país, como o Rio de Janeiro, apesar de ter recebido críticas de vários empresários.
“Nosso trabalho como gestores é separar sinais de ruídos, conversar com muita gente e estudar muito para entender quem vai passar pela crise”, ressaltou Heilberg. “Essa crise tem começo, meio e fim, e quem passar por ela e tiver bons fundamentos vai sobreviver.”
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A estratégia da HIX
Antes de partir para as compras, a HIX tratou de desinvestir de negócios com grande endividamento.
Heilberg prefere não revelar as empresas que saíram da carteira do fundo. Limita-se a dizer que vendeu ações de companhias de varejo com custo fixo elevado, margem baixa e alavancagem alta. Ele acrescentou que o portfólio do fundo já não contava com papéis “da CVC e de companhias aéreas”.
Feito isso, o fundo tratou de alocar o dinheiro que vinha acumulando em caixa. “Estamos praticamente 99% investidos e creio que esse seja o maior nível desde quando a HIX começou”.
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A nova realidade do mercado brasileiro também fez com que o fundo pulverizasse suas posições. “Estamos mais diversificados do que costumamos ser. Normalmente o fundo chega a ter 20% em uma posição. Hoje, nossa maior está com 10%, e estamos com quase 30 posições”, afirma Heilberg.
Para ele, o fluxo vendedor da Bolsa nas últimas semanas fez com que muitas empresas passassem a negociar a valores descontados. “Tem muita coisa atrativa. Está mais fácil achar o que você quer comprar do que o que não quer comprar. É o inverso do que tínhamos em janeiro. Não à toa, tínhamos mais caixa naquele momento”.
A diversificação, porém, é mais do que uma forma de aproveitar o potencial de diferentes ativos. É uma estratégia de proteção em um cenário ainda nebuloso. “Hoje, o risco de apostar em um só cavalo não compensa. Faz sentido essa diversificação um pouco maior do que o comum”, defende.
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O que está no carrinho
A empresa de energia Eneva, que viu seus papéis caírem quase 40% nos últimos dias, voltou a entrar para o radar de oportunidades da HIX.
Heilberg conta que o fundo vinha diminuindo gradativamente sua posição no ativo, que chegou a compor mais de 20% da carteira. Agora, com a queda recente, chegou a hora de encher o carrinho novamente. Hoje, mesmo com apenas 10% de participação, a empresa representa a maior posição do fundo.
“O impacto do coronavírus sobre a Eneva é praticamente zero. O único impacto que poderiam argumentar é custo de capital, o risco país e a mudança na taxa de desconto, porque ela tem receita contratada com volume e preço definido. Mas é um negócio resistente a crises”, defende.
Segundo ele, dois fatores ajudam a explicar o tombo dos papéis nas últimas semanas. O primeiro, de natureza macro, é a pressão vendedora que contaminou todo o Ibovespa nos últimos dias. O segundo foi a posição alavancada de outro fundo na companhia de energia. Quando ele foi estopado, teve que se desfazer dos papéis da companhia na baixa.
Heilberg conta que também aproveitou o momento para ampliar a participação do fundo em sua segunda maior posição, A AES Tietê. De acordo com ele, o racional por trás da compra é o mesmo: a crise atual não deve impactar significativamente os resultados da empresa.
Outro upside para a empresa está em uma possível fusão com a própria Eneva, que pode trazer bastante sinergia para ambas as operações.
A terceira maior posição do fundo, também ampliada nos últimos dias, é a fabricante de alimentos Camil. “As pessoas vão continuar comendo. Talvez comam menos fora e mais em casa, o que as levará mais aos supermercados. E a Camil está conseguindo operar super bem. Conversamos com a companhia esses dias, e estamos muito tranquilos”, afirma.
Farinha de outro saco
Muitos investidores têm fugido de empresas de setores mais cíclicos (sensíveis aos momentos da economia) para proteger sua carteira. Para Heilberg, jogar todas elas em uma vala comum pode ser um erro. Dois casos citados pelo gestor são as operadoras de planos de saúde Sul América e Hapvida.
“O mercado colocou que vai haver aumento da sinistralidade devido ao aumento de casos de coronavírus. Conversamos com diretores de hospitais para entender os impactos na cadeia de custos do coronavírus. E o tratamento em si é barato, o problema é a falta de infraestrutura hospitalar. E isso faz com que você não tenha um aumento tão grande de custos para as operadoras como o que tem sido colocado na conta”.
Além disso, segundo Heilberg, a falta de infraestrutura e a própria quarentena têm feito com que muitos pacientes adiem ou cancelem procedimentos mais caros e menos urgentes, como cirurgias estéticas, exames de rotina e consultas.
“Para completar, essas empresas estão super sólidas. A Hapvida passou por um follow on recentemente e a Sul América vendeu uma de suas divisões por pouco mais de R$ 3 bilhões”, ressalta. “No longo prazo, o Brasil continua sendo subpenetrado no sistema de Saúde, o SUS continua sendo ruim, e esses caras continuam sendo dois dos maiores operadores de Saúde do país”, afirma.
O hambúrguer sobrevive
Heilberg vê boas oportunidades até mesmo em empresas que já estão sofrendo com os impactos da crise na economia real. Alguns exemplos são a Centauro, o Burger King e a Jereissati e Iguatemi, que também entraram para a carteira do fundo.
“A Centauro vai sofrer, mas é bem gerida e está em uma situação confortável. Sobre o Burger King, as pessoas vão voltar a comer hambúrguer no dia em que a crise acabar. Jereissati e Iguatemi é outro. Se os shoppings ficam fechados por um ano, o impacto nos papéis deveria ser da ordem de 5%, mas eles caíram 50%, 60%”.
Lockdown seletivo ou total?
O Stock Pickers perguntou ao gestor se ele é a favor de um lockdown total ou seletivo da economia. Para ele, deveríamos “evoluir gradativamente” para a segunda opção.
“O resultado de ficarmos completamente fechados por um período muito longo é devastador. O impacto disso via aumento da miséria, violência, é muito grande. A empresa média no Brasil tem 27 dias de caixa. Ficar 1 ou 2 meses fechado é horroroso. O problema é tão grande que virou um problema de governo. O caminho talvez seja isolar as pessoas com idade ou comorbidades, mas sem parar completamente tudo”, defende.
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