Publicidade
SÃO PAULO – Em meio à crise do coronavírus o governo vem anunciando algumas novidades em crédito para pessoas físicas na tentativa combater os efeitos econômicos da pandemia.
No entanto, nenhuma das soluções propostas até agora foi feita especificamente para a dívida do cartão de crédito. E essa é uma das maiores vilãs do orçamento do brasileiro: 78,4% das famílias endividadas possuem débitos dessa categoria, de acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) de março deste ano..
E a quantidade de famílias endividadas no Brasil aumentou em março deste ano: 66,2%, contra 62,4% no mesmo período do ano passado, e também mais do que os 65,1% de fevereiro de 2020. Desse total, 25,3% vão atrasar contas e 10,2% não terão como pagar as contas de abril.
Continua depois da publicidade
Dado, o brasileiro deve procurar soluções para evitar se prejudicar com dívidas em um momento em que vários setores estão parados e que a atividade econômica caminha a passos lentos. Assim, adiar a fatura de cartão de crédito pode ser necessário para aliviar o orçamento. Mas quais as opções disponíveis hoje?
O InfoMoney conversou com uma planejadora financeira e entrou em contatos com os maiores bancos do país para entender quais as alternativas e quais as taxas de juros que estão sendo praticadas nesse período.
O que fazer?
Especialmente neste mês, segundo dados da pesquisa da CNC, têm ganhado espaço na composição do endividamento as dívidas em crédito consignado, carnês e crédito pessoal, provavelmente relacionados ao momento, já que muitas pessoas estão enfrentando dificuldades para fazer os pagamentos mensais.
Continua depois da publicidade
Segundo Letícia Camargo, planejadora financeira CFP, o cartão de crédito é um dos maiores vilões justamente devido ao juros altos do rotativo. “Com a regra implementada em 2017, hoje o cliente não pode pagar o mínimo indefinidamente para não acarretar um super endividamento. Só é permitido pagar o mínimo no primeiro mês e depois tem que parcelar. Mas os juros do rotativo passam dos 320% ao ano, é um absurdo. É preciso fugir disso”, afirma.
Dentro das possibilidades disponíveis hoje no mercado, uma pessoa envidada que não consiga pagar a fatura deve fazer de tudo para evitar o rotativo – que possui o maior juro do mercado. “Refinancie a dívida, até o cheque especial é menos pior [que o rotativo], já que o juro está limitado a 8% ao mês (a.m)”, diz.
Mas a verdade é que não há muitas alternativas para esse adiamento, segundo a planejadora. Por isso, o consumidor deve fazer comparações entre as opções de refinanciamento do valor e buscar uma solução que ofereça a menor taxa de juro possível.
Continua depois da publicidade
“Cheque especial, parcelamento da fatura, empréstimo pessoal, e até consignado são opções de crédito que possuem juros mais baratos do que o rotativo. No mundo ideal, nesse momento em que já passamos por cerca de um mês de coronavírus, as pessoas devem se antecipar e planejar: se entenderem que precisarão adiar alguma conta para poder terminar o mês, já negocia com o banco alguma opção de crédito, sempre comparando as taxas”, diz.
Assim, Letícia orienta o consumidor a fazer um balanço das contas e ver quanto tem e terá de receita durante esse período conturbado. “Com uma ideia de como ficará a situação, fica mais fácil se organizar. Despesas podem ser mudadas, cortando algumas coisas e avaliando as opções em mãos fica mais fácil atravessar a crise sem se afundar em dívidas”.
Sobre a comparação de taxas, a planejadora sugere que o consumidor avalie todas as opções disponíveis e não somente a do banco em que é correntista. “Filtre com cuidado e atenção as opções das instituições financeiras para conseguir o melhor custo-benefício dado o momento. O consignado geralmente oferece a menor taxa de juro, mas cada um precisa avaliar sua realidade”, afirma.
Continua depois da publicidade
Segundo ela, o consumidor que já sabe que não conseguirá pagar na data certa pode postergar o pagamento tentando mudar a data de pagamento da fatura. “Cada banco e tipo de conta tem uma regra sobre as datas de fechamento, mas, na atual circunstância, alguns dias que a pessoa consiga adiar, do dia 15 para o dia 25 por exemplo, já ajuda. A crise já se mostrou imprevisível, qualquer tentativa é válida”, diz.
Outra parte dessa equação é o controle financeiro. “Claro que, além de rastrear a receita e organizar as despesas mensais, o consumidor precisa se ajustar à nova realidade: com o home office, a compra online está fácil e o cartão de crédito é o mais usado. Evite compras desnecessárias neste momento”, orienta.
O Banco Central (BC) divulga a média das taxas de juros de todas as alternativas, o que serve como uma primeira base de comparação.
Continua depois da publicidade
Vale lembrar que, para cheque especial, o BC considera também operações de adiantamento a depositantes, e as taxas correspondem ao custo efetivo médio das operações para os clientes, composto pelas taxas de juros efetivamente praticadas, acrescidas dos encargos fiscais e operacionais.
Além disso, como a planejadora financeira explicou, geralmente, a taxa de juro rotativo é a maior do mercado. No caso do BC, foi a maior taxa média, porque considera instituições que também oferecem crédito para negativados e cobram juros bem mais altos para fazer isso. Para ter uma base, dados do Procon-SP de março, por exemplo, mostram que a taxa média de crédito pessoal dos grandes bancos do país foi de 6.05% a.m.
O que os bancos oferecem
Considerando as dicas da planejadora, o InfoMoney entrou em contato com alguns bancos e pediu a divulgação das taxas atuais cobradas por cada um (confira um resumo no infográfico ao final da matéria).
O Santander afirmou que os clientes poderão parcelar em até 24 vezes, “o pagamento de suas faturas com data de vencimento a partir de dia 15 de abril, com 50% de desconto na taxa de juros e possibilidade de carência de até 60 dias até a primeira parcela”. No entanto, não divulgou as taxas cobradas atualmente, e informou que será possível solicitar essa opção nos apps Way ou Santander, além do internet banking.
Por fim, o banco também informou que oferece o crédito unificado: “o cliente pode juntar suas dívidas tanto de cartão de crédito quanto de outros financiamentos, como crédito pessoal e cheque especial, com condições e prazos mais atrativos”, também sem divulgar quais são as condições e prazos.
A Caixa, por sua vez, explicou que, no fim de março, reduziu algumas de suas taxas de juros. Para o crédito pessoal, as taxas saíram de 2,29% a.m. para 2,17% a.m. No cheque especial, para clientes com salário na Caixa, de 4,95% a.m., caíram para 2,90% a.m. No cartão de crédito, a taxa do parcelamento de fatura do cartão, que é na média 7,7% a.m., agora parte de 2,90% a.m. O banco afirmou que a taxa média do rotativo foi reduzida para a partir de 6,99% a.m. As condições especiais do cheque especial e cartão de crédito estão valendo até o fim de junho.
Segundo o banco, o cliente pode ainda parcelar a sua fatura em até 36 meses, com juros reduzidos, ou pagar parte da fatura, deixando o saldo restante para o próximo mês, mas com cobrança de encargos.
Já o Banco do Brasil informou que sua taxa média para o parcelamento da fatura é de 7,08% a.m., enquanto taxa média do empréstimo consignado é de 1,89% a.m. e do empréstimo pessoal é, em média, 3,37% a.m. Por fim, a taxa média do rotativo é de 10,03% a.m.
Ao verificar a necessidade de seus clientes por prazos e parcelamentos, o BB começou a oferecer novas medidas. “Os clientes poderão optar por migrarem seus saldos no rotativo para seus empréstimos pessoais (em até 60x) ou para o pagamento parcelado da fatura, linha do próprio cartão (em até 24x)”, disse.
O banco também afirmou que identifica clientes que dão sinais de dificuldade de pagamento e oferece proativamente opções de financiamento.
Especialmente neste momento, o Itaú vai oferecer aos clientes Itaucard, Credicard e Hipercard carência de 60 dias para o pagamento da primeira parcela das faturas que não são pagas à vista (após a entrada paga na data de contratação do parcelamento). A medida é válida para novas solicitações de parcelamento, feitas a partir de sexta-feira (17). Também há a possibilidade de dividir o total da fatura em até 24 vezes.
A solicitação pelo parcelamento da fatura com a carência de 60 dias pode ser feita no site do banco, na central de atendimento e nos núcleos de atendimento instalados em unidades físicas dos varejistas parceiros (no caso de cartões cobranded). Já pelo botão Atendimento Digital dos apps Itaucard, Credicard e Hipercard, o cliente pode, de maneira simples e prática, solicitar a renegociação da fatura, entre outras demandas.
No caso de parcelamento de faturas, a taxa parte de 1,99% a.m., segundo o banco.
Justamente em função da crise, o Nubank agora permite que seus clientes parcelem a fatura em até 12 vezes, com juros de 1,9% ao mês, direto no app. As novas condições valem para o parcelamento voluntário, aquele em que o cliente não possui valores no rotativo de faturas anteriores, e para faturas fechadas a partir de 1º de abril.
Além do corte nos juros, o Nubank também ampliou o prazo para pagamento do empréstimo pessoal. Clientes que contraíram essa modalidade de crédito, com o pagamento em dia, podem acionar os canais de atendimento da fintech e renegociar seu empréstimo. A taxa de juros nesse caso parte de 0,95% a.m. O rotativo do banco pode chegar a 14% a.m.
O Bradesco não respondeu à solicitação até o momento de publicação desta matéria.