Por que o anúncio de Donald Trump decepcionou tanto o mercado

Analistas destacaram a falta de medidas concretas e o mal estar criado com a Europa como fatores que pesaram para os investidores

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A tensão crescente nos mercado globais nas últimas semanas não parece chegar ao seu ápice. Na quarta-feira (11), após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar o novo coronavírus uma pandemia, as Bolsas entraram em pânico, levando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a convocar um pronunciamento para a noite de ontem.

Isso criou uma grande expectativa nos investidores, que aguardaram atentos a fala do líder americano na chance de que medidas fossem anunciadas para conter o avanço do vírus e que pudesse acalmar as Bolsas.

Trump não só não animou o mercado, como ajudou a aumentar o clima de aversão ao anunciar de forma vaga a suspensão de voos da Europa para os EUA por 30 dias.

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Analistas apontam que a primeira reação ao pronunciamento do presidente americano foi de confusão. Entre os fatores para isso estão, por exemplo, ele ter falado que a restrição valia para a “Europa”, e não para o grupo de 26 países conhecido como Área Schengen.

Além disso, Trump afirmou que a suspensão valeria para o comércio entre os países, corrigindo posteriormente, pelo Twitter, que o comércio internacional não será afetado.

Mesmo assim, o anúncio gerou um grande desconforto entre Europa e EUA, já que o presidente chegou a dizer que os europeus “falharam” em conter o vírus por não terem tomado medidas restritivas mais cedo.

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A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde afirmou que a Covid-19 deve continuar se espalhando, mesmo com essas medidas.

“Não vou julgar uma medida ou outra por qualquer governo. Mas duvido muito que as doenças tenham passaporte e estejam cientes das fronteiras”, disse Lagarde à CNBC.

Pressionada pelo anúncio de Trump, as Bolsas da Europa desabaram mais de 10% e tiveram seu pior pregão da história. O índice FTSE 100, do Reino Unido, fechou esta quarta-feira (12) com queda de 10,87%, enquanto o CAC 40, da França, recuou 12,28%. A bolsa alemã DAX teve perdas de 12,24%, ao passo que o espanhol IBEX 35 caiu 14,06%.

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Além do mal estar com a Europa, especialistas criticaram a falta de informações concretas em seu anúncio. O presidente americano afirmou ainda que o governo procuraria fornecer ações “sem precedentes” que permitissem que trabalhadores doentes ficassem em casa e ainda fossem pagos pelas empresas.

Ele pediu ao Congresso ainda que conceda isenção de imposto sobre os salários aos americanos, ideia que recebeu resistência de alguns deputados. Especialistas disseram que os investidores esperavam por um pacote de ajuda econômica muito maior, e um plano médico abrangente para lidar com a ameaça representada pelo coronavírus.

“Os anúncios decepcionaram os investidores, que esperavam mais detalhes e um estímulo direcionado à luz do ‘grande’ plano econômico prometido pela Casa Branca no início desta semana”, disse a equipe do banco suíço Julius Baer.

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Segundo eles, medidas abrangentes e direcionadas por governos e bancos centrais para evitar uma contração de crédito serão fundamentais no futuro.

Ao MarketWatch, Paul Donovan, economista-chefe do UBS apontou três fatores para os mercados terem ficado decepcionados com Trump: 1) existem poucas políticas para limitar os danos econômicos a curto prazo; 2) Trump errou em várias políticas, levantando questões sobre coerência política; e 3) caracterizar isso como um vírus estrangeiro sugere uma avaliação irrealista dos riscos.

Já Gregory Daco, economista-chefe da Oxford Economics, disse que o “discurso do presidente Trump à nação foi sintomático na falta de coordenação de políticas diante da pandemia global de coronavírus”.

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Nesta quinta-feira (12), os principais índices americanos chegaram a acionar o circuit breaker logo na abertura dos negócios. Durante a tarde eles amenizaram as perdas com a notícia de que o Federal Reserve de Nova York vai oferecer mais de US$ 1,5 trilhão em liquidez ao mercado de títulos.

Mesmo assim, os três índices fecharam com perdas de mais de 9%. O Dow Jones registrou seu pior pregão desde março de 1987.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.