SÃO PAULO — A aversão ao risco registrada nos mercados globais na semana passada também não poupou as empresas brasileiras listadas na B3. Ao todo, elas perderam R$ 361,63 bilhões em valor de mercado nos três dias que a Bolsa brasileira esteve aberta após o Carnaval, segundo um levantamento da Economatica.
O montante é maior do que tudo o que vale a Petrobras (PETR3 ; PETR4), por exemplo — R$ 344,01 bilhões. A estatal de petróleo foi a companhia aberta que mais perdeu valor no período: terminou a sexta-feira (28) valendo R$ 48,8 bilhões menos do que uma semana antes.
A Vale (VALE3) também sofreu. A mineradora viu seu valor de mercado tombar de R$ 257,08 bilhões em 21 de fevereiro para R$ 227,23 bilhões no fim da semana passada (quase R$ 30 bilhões a menos). Em terceiro lugar, ficou a Ambev (ABEV3), com perda de R$ 26,90 bilhões, para R$ 228,71 bilhões.
No exterior, onde não houve pausa nos mercados por causa do Carnaval, a queda foi ainda mais expressiva. De acordo com os dados da Economatica, as empresas americanas perderam ao todo US$ 3,967 trilhões em valor de mercado entre 21 e 28 de fevereiro.
A Apple liderou as perdas entre as companhias abertas nos EUA, com recuo de US$ 173,63 bilhões em valor de mercado, para US$ 1,196 trilhão. A companhia informou que foi muito impactada pela queda nas vendas na China devido ao surto de coronavírus.
A Microsoft e a Amazon foram outras duas gigantes americanas que viram seu valor de mercado derreter na semana passada. As perdas foram de US$ 126,11 bilhões e US$ 105,65 bilhões, respectivamente, para US$ 1,232 trilhão e US$ 937,75 bilhões.
As Bolsas europeias também derreteram na semana passada, especialmente na Itália, onde o surto de coronavírus no continente está mais agressivo. Os principais mercados de ações europeus caíram todos pelo menos 11% entre 21 e 28 de fevereiro.
A aversão ao risco também foi sentida no mercado de commodities: enquanto o preço do petróleo despencou, a cotação do ouro — investimento considerado um porto seguro em momentos de tensão entre os investidores — subiu. Veja abaixo um infográfico que mostra os números do “efeito coronavírus” nos mercados na semana passada.
Escalada do coronavírus no mundo
O surto de coronavírus confirmou na semana passada a expectativa da Organização Mundial da Saúde de que a epidemia cruzaria as fronteiras da Ásia e se espalharia pelo mundo. O número de casos começou a se intensificar especialmente na Itália, onde já há mais de 2.000 pessoas infectadas. Também houve 52 mortes no país.
A partir da Itália, a Covid-19, como é identificada a doença de quem é infectado pelo coronavírus, também chegou a outros países.
Afeganistão, Bahrain, Iraque, Omã, Argélia, Áustria, Croácia, Suíça, Brasil, Dinamarca, Estônia, Geórgia, Grécia, Noruega, Paquistão, Romênia, Macedônia do Norte, Belarus, Lituânia, Holanda, Nova Zelândia, Nigéria, México, San Marino, Azerbaijão, Equador, Irlanda, Mônaco e Catar anunciaram seus primeiros casos confirmados de coronavírus na semana passada.
No Brasil, já são dois casos confirmados — ambos em São Paulo — e 252 casos suspeitos, segundo o informe mais recente do Ministério da Saúde. Os dois pacientes brasileiros infectados estiveram recentemente na Itália, na região do país onde há o maior número de registros de casos de coronavírus.
As empresas, especialmente as multinacionais, começam a sentir os efeitos do novo surto em seus resultados e muitas já anunciaram que esperam uma redução de lucro em 2020 por causa disso. O movimento também vai desacelerar o crescimento econômico global, por isso os mercados reagiram de forma tão negativa à escalada da Covid-19 na semana passada.
Para o Brasil, o Bank of America reduziu a projeção de crescimento do país em 2020, que passou de 2,2% para 1,9%. Também na semana passada, o JP Morgan cortou a estimativa para o PIB brasileiro neste ano de 1,9% para 1,8%.
Em entrevista ao InfoMoney nesta segunda-feira (2), Márcio Appel, gestor e fundador da Adam Capital, disse que o Banco Central deve voltar a cortar a Selic em meio ao curto de coronavírus, em uma tentativa de segurar a desaceleração esperada para o crescimento da economia.
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