Cinco investimentos que podem se mostrar um mico em 2020

Aplicação em poupança, fundos DI, títulos públicos, ações e previdência exige mais cuidados com juros baixos; conheça as recomendações de especialistas

Ana Paula Ribeiro

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SÃO PAULO – O processo de redução da Selic obriga o investidor a ficar cada vez mais atento à sua carteira de aplicações. E ser displicente com os custos embutidos em um produto financeiro é um dos principais riscos de 2020.

Em um ambiente em que a taxa básica de juros está em 4,5% ao ano, encargos e tributos que incidem sobre os investimentos podem fazer com que o rendimento de uma aplicação financeira fique abaixo da inflação, ou seja, o investidor pode ver o patrimônio investido perder poder de compra.

Essa preocupação é maior nos produtos mais tradicionais, que atrelam menor risco e alta liquidez, ou seja, a disponibilidade de sacar os recursos de forma imediata. Mas os riscos não se restringem apenas a essa categoria. De olho nesse novo cenário, o InfoMoney listou as aplicações que correm o risco de virar um “mico” em 2020.

Caderneta de poupança

Desde que a Selic caiu para 8,5% ao ano, a caderneta de poupança tem rendido 70% da taxa Selic mais a variação da TR, taxa que tem ficado zerada desde 2018.

Desta forma, com os juros a 4,5% ao ano – e com possibilidade de ainda caírem mais –, o rendimento da aplicação mais tradicional do país tem sido de 3,15%. Ainda que não haja incidência de Imposto de Renda ou outros custos sobre o produto, a rentabilidade prevista está abaixo da expectativa da inflação para o ano, de 3,56%, segundo última projeção que consta do relatório Focus do Banco Central (BC).

“Em 2019, a poupança já rendeu menos que a inflação. Precisamos ficar atentos a isso e procurar investimentos cuja rentabilidade fique ao menos acima da inflação. Quando fica menor, o patrimônio perde poder de compra”, explica Letícia Camargo, planejadora financeira com certificação CFP.

O estoque de recursos da poupança é da ordem de R$ 850 bilhões. Ainda que com resultados menores que os dos de 2017 e 2018, a caderneta teve captação líquida de R$ 13,3 bilhões em 2019.

Fundos DI

Os fundos de renda fixa mais tradicionais, conhecidos como fundos DI, também podem frustrar o investidor, e uma parte delas inclusive já provocou estragos. (Leia mais nesta reportagem.)

Essas carteiras investem basicamente em títulos públicos atrelados à Selic, com a cobrança de uma taxa de administração que incide sobre o valor investido, além de Imposto de Renda (com alíquota regressiva) sobre os rendimentos. Com os juros tão baixos, os custos estão tendo um peso maior, tornando mais difícil um retorno que supere a inflação.

A indicação de analistas é pesquisar por carteiras que cobrem a menor taxa de administração possível. Esse trabalho, contudo, poderá não impedir os prejuízos, só minimizá-los. Apesar da possibilidade de perda real, esse tipo de fundo segue como alternativa para a reserva de emergência, uma vez que possui liquidez diária e baixa volatilidade. Mas é fundamental se atentar ao custo e ao prazo de resgate.

Letícia aconselha que a taxa paga seja de no máximo 0,15%. Ainda assim, com as condições atuais, o rendimento só supera a inflação se os recursos ficarem aplicados por ao menos dois anos, diz. Nos fundos com taxa zero, a rentabilidade líquida só será maior que o IPCA após um ano.

“Não será fácil ganhar da inflação com a Selic a 4,5% e a inflação esperada pelo Focus”, pontua a planejadora financeira.

Mas por ser uma opção para a reserva de emergência, Henrique Bousquat, responsável por produtos do escritório de agentes autônomos ALL Investimentos, considera que é possível admitir uma taxa de administração de até 0,5%, o que reduz o rendimento do fundo para 88% do CDI. Sobre esses ganhos é preciso ainda considerar a incidência do IR no momento do resgate.

As faixas do imposto correspondem a uma alíquota de 22,5%, para recursos aplicados até 180 dias; 20%, entre 181 e 360 dias; 17,5%, para o período de aplicação de 361 a 720 dias; e 15%, para os recursos que permanecem por mais de 720 dias.

Com base nessas faixas, o rendimento líquido cai para, respectivamente, 68,2%, 70,4%, 73% e 75% do CDI. Em todos os casos, abaixo da inflação.

O Tesouro Selic pode ser uma alternativa para quem busca liquidez de curto prazo e um baixo custo, já que o único obrigatório corresponde a uma taxa de custódia de 0,25% do valor investido à B3. Para ter uma condição melhor que em um fundo, vale investir por meio de instituições que não cobram a opcional taxa de administração, grupo que já é maioria no mercado.

Títulos públicos

Na avaliação de Thomaz Fortes, gestor de fundos da Warren, este não é um bom momento para comprar títulos públicos prefixados ou atrelados à inflação se o foco estiver no ganho de capital, isto é, com o resgate antes do vencimento.

“Esses papéis tiveram um excelente retorno no ano passado, mas isso não deve ocorrer novamente”, justifica o gestor.

Ele lembra que, até outubro, os títulos públicos tiveram valorização forte devido à queda da taxa de juros ter ocorrido em um ritmo acima do esperado. Toda vez que a taxa de retorno diminui, o preço do papel sobe, o que gera a valorização do investimento. E vice-versa.

A chamada marcação a mercado, que existe nos fundos, também foi sentida na prática por quem resgatou seus títulos públicos antes do vencimento.

“Em 2020, os juros não vão cair na mesma proporção e tem até um risco de subir, dada a possibilidade de uma pressão inflacionária. Se isso ocorrer, o preço unitário vai cair e, na marcação a mercado, o cliente vai ter uma perda de capital, ou seja, retorno negativo”, explica Fortes.

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Compra de ações sem olhar fundamentos

O gestor da Warren também alerta que o investidor não deve “olhar para o retrovisor” ao escolher uma ação para a sua carteira, ou seja, fazer a compra empolgado com uma valorização recente sem saber se ocorreu, ou há perspectiva de ocorrer, uma mudança na empresa ou no cenário macroeconômico.

A recomendação de cautela é válida. No ano passado, o Ibovespa subiu 32%. No entanto, Fortes lembra que algumas ações já estão com a relação entre o preço e o lucro esperado para a companhia muito elevado, o que faz com que o investimento fique “caro”.

“O investidor pessoa física muitas vezes compra sem entender o fundamento daquilo que está investindo. Veja o exemplo dos papéis da Oi. Quais as saídas para a empresa, que está em recuperação judicial? Se o investimento não é feito com um fundamento, no final, pode sobrar apenas um mico”, alerta.

No acumulado do ano, os papéis da empresa de telefonia acumulam ganhos de 13,9%, após recuo de 31,2% no ano passado.

Fundos de previdência de renda fixa com custo elevado

Mesmo os investimentos de longo prazo exigem atenção. Esse é o caso dos fundos de previdência privada de renda fixa, em especial os mais conservadores, que concentram grande parte da carteira em títulos públicos de curto prazo. Mais uma vez, é a taxa de administração que pode corroer os ganhos.

“Os fundos de previdência de renda fixa podem sofrer quando a taxa de administração ficar acima de 1%. O cenário piora quando há a taxa de carregamento”, destaca Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos.

A taxa de carregamento é cobrada em alguns fundos e incide sobre os aportes realizados. Na prática, o custo reduz a quantia que é de fato investida.

Bousquat, da All Investimentos, é ainda mais conservador. Ele recomenda uma taxa de administração de no máximo 0,80% ao ano. “Um fundo de previdência renda fixa tem uma cadeia maior de instituições para remunerar, como as seguradoras. Por isso, a taxa precisa ser um pouco maior do que um fundo de renda fixa”, ressalva.

O cenário de juros baixos leva à necessidade de maior diversificação em alternativas que possam render mais que o CDI. William Eid Junior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas, (FGV), ressalta, entretanto, que essa busca deve ser feita com cautela. O importante, primeiro, é conhecer onde o dinheiro será investido, entender o produto.

“Alguns produtos oferecem muito, mas, se o investidor não consegue entender de onde vem o rendimento, é melhor cair fora. Se há uma diferença muito grande entre o que você sabe do produto e o que o consultor está vendendo, é algo que não é para ser comprado agora”, recomenda.

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