Errar logo no primeiro investimento pode ser bom: 5 lições que aprendi

O caso aconteceu na década de 80, quando o mercado brasileiro era outro. Mas as lições continuam atuais

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SÃO PAULO – No começo da década de 80, minha família tinha o controle acionário da Bahema, que, na época, era uma revendedora da Caterpillar com sobras de caixa. Fizemos nesse período a primeira das muitas compras de participações em empresas de capital aberto que faríamos ao longo dos anos.

A escolha da primeira investida nos parecia óbvia porque tínhamos acabado de conseguir um sócio para o nosso projeto agropecuário que estava exigindo investimentos num nível muitíssimo maior do que tínhamos previsto.

Isso era agravado pela forma burocrática com que os recursos eram liberados. Naquela época, a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) permitia a utilização de parte do imposto de renda das pessoas jurídicas para aplicação em projetos aprovados, num múltiplo dos investimentos feitos com recursos próprios, que estavam, no seu julgamento, de acordo com o projeto aprovado.

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Mas, a quase todo momento, tínhamos o desgosto de ver gastos glosados por motivos burocráticos quase intransponíveis. Assim, a relação de investimentos próprios para os incentivados (oriundos de IR), que deveria ser de 1 para 3, na prática se tornava 1 pra 1.

Nessa procura por capital, nos sensibilizamos pelo interesse de outra empresa baiana de capital aberto, a Correa Ribeiro S/A, em querer participar do projeto e assim também usar parte do seu IR.

Como a empresa estava se revelando uma boa parceira, chegamos à conclusão “lógica” de que comprar uma participação minoritária na Correa Ribeiro poderia ter enorme sucesso. Ledo engano e erro de principiante.

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Entendíamos muito pouco do negócio da empresa – exportação de cacau. Além disso, a maior parte da atividade se passava em terreno nebuloso de negociação de contratos futuros (vendidos ou comprados), sobre os quais tínhamos uma visão muitíssimo limitada.

Naquela época, tive a surpresa de descobrir que as bolsas de mercadoria pelo mundo negociavam mais de 20 vezes a safra mundial de cacau. O lucro do traders dependia muito mais de acertar esses trades do que da margem física da compra e venda. E foi no desconhecimento dessas coisas que erramos.

Tentamos que a empresa fosse obrigada a nos mostrar todos os contratos que tinha em aberto em bolsas fora do Brasil (Londres e Chicago principalmente), mas, nos anos 80, a legislação considerava legítimo que isso fosse quase impossível. A visão era de que o sigilo era parte vital do sucesso do negócio.

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Fazendo uma longa história curta, saímos em alguns anos, com um prejuízo ainda suportável. E com diversos pequenos atritos no relacionamento: mais de 30 anos depois, porém, ainda deu para manter um nível razoável de diálogo.

As lições que ficaram, de erros que não voltamos a repetir nos investimentos seguintes:

– Tente conhecer o negócio em que está entrando de maneira profunda e questione todas as suas premissas;

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– Tente conhecer em profundidade o quadro acionário, especialmente os que dirigem a empresa. Seja ele o acionista controlador, o grupo controlador ou os principais players deste quadro;

– Aproveite ao máximo o “tempo de namoro”. Em outras palavras, para ter o conhecimento sugerido nos itens anteriores, em geral é melhor ir aumentando aos poucos a participação na investida. Tenha o cuidado de ir passo a passo e, a cada passo, dar uma parada para “meditação”;

– Entenda os fatos reguladores que envolvem o negócio em que irá investir e avalie as possibilidades de como estes fatores deverão evoluir;

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– Por último: um pouco de sorte sempre ajuda, mas não invista contando com ela.

Muitas lições aprendidas! Nas próximas colunas, começarei a falar de casos de sucesso. Só o Juízo Final para esclarecer se teríamos tantos casos de sucesso se não tivéssemos começado errando.

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Guilherme Affonso Ferreira

Guilherme Affonso Ferreira é sócio-fundador e chairman da Teorema Capital. Além disso, é conselheiro de empresas como Arezzo, B3 e M Dias Branco. Foi diretor-presidente da Bahema no período em que a companhia foi acionista relevante do Unibanco (1986 a 2008) – e obteve um retorno de 50% ao ano, em dólares, com as ações do banco. Também foi conselheiro da Petrobras de 2015 a 2018, participando do programa de recuperação da companhia.