Hora de apostar no varejo de moda? Marisa, Renner e Guararapes na lupa de analistas

Durante a crise, o ano de breve respiro do varejo de moda brasileiro foi 2017, quando o governo disponibilizou acesso ao FGTS. Analistas do Bradesco BBI veem oportunidades com o novo saque  

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – O anúncio de IPO (oferta pública inicial de ações) da C&A na Bolsa brasileira voltou a dar vitrine para o varejo de moda no país. Para analistas do Bradesco BBI, pode estar próximo o momento em que essa categoria irá retomar o rumo de crescimento após anos de crise. Mas é preciso optar pelas empresas melhor posicionadas para surfar essa onda.

Ao longo do período de crise, as varejistas de moda foram menos prejudicadas que as de itens como eletrônicos ou mobiliário. Por outro lado, empresas como Marisa (AMAR3), Guararapes (GUAR3), Lojas Renner (LREN3) e Hering (HGTX3) ainda não apresentaram a retomada vista em outros setores nos últimos anos. A categoria cresceu apenas 1,5% ao ano nos últimos cinco anos. A taxa média antes da crise, entre 2004 e 2014, era próxima de 10%.

Durante os anos de crise, o crescimento mais significativo foi em 2017, graças à liberação de contas inativas do FGTS pelo governo Temer. Neste ano, com uma nova leva de saques a partir de setembro, os efeitos podem ser semelhantes, apostam analistas.  

Quem vai se dar melhor?

Considerando que, ao longo da crise, o segmento que mais deixou de gastar com roupas e calçados foi o das classes C, D e E, as varejistas que dependem muito de vendas na categoria de baixa renda tendem a ver maior dificuldade em apresentar recuperação.

Os analistas do BBI utilizaram os relatórios financeiros das quatro varejistas para demonstrar que a Renner está melhor posicionada neste sentido, capturando mercados desde o A- até o C+. Riachuelo e Hering têm foco maior nas categorias B e C e Marisa, por fim, concentra esforços apenas na classe C.

“Riachuelo e Marisa sofreram as condições de mercado mais desafiadoras nos últimos cinco anos”, escrevem os analistas. Mas, acima do posicionamento da marca, a execução foi onde a Renner realmente se destacou: desde 2010, o market share da varejista entre o cliente A/B saltou de 5% para 10%.

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“Consistência sempre foi um dos principais geradores da execução forte da Renner – consistência em posicionamento, preço e conteúdo do produto”, elogiam os analistas.

Já a Marisa pecou na execução em alguns momentos. Em 2011, a abertura de muitas lojas no mesmo ano atrapalhou os resultados. No ano seguinte, um aceno à classe B elevou os preços dos produtos. Em 2013, o lançamento de vendas diretas não correu conforme o esperado. Os analistas também mencionam “volatilidade no conteúdo do produto e perda de foco em moda”.

Somando os problemas circunstanciais e os erros de gestão, o crescimento de vendas em mesmas lojas da Marisa caiu 18% no acumulado entre 2014 e 2018. O market share entre consumidores da classe C caiu de 9% em 2013 para 5,5% em 2018 e os clientes de outras classes sociais migraram para Renner e Riachuelo.

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O estudo mostra que a Riachuelo, do grupo Guararapes, também perdeu market share geral, assim como a Marisa. Mas a segunda tem maiores empecilhos pela frente por ter cerca de metade das suas lojas nas ruas, enquanto as principais competidoras estão mais concentradas em shoppings. “Assim, a Marisa tem de competir com varejistas independentes por um lado e com Renner e Riachuelo do outro [nos shoppings]”.  

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney