Listagem direta, a alternativa (barata) ao IPO: para quem serve?

Em 2020 e além, espera-se que essa modalidade diferente de entrada na Bolsa ganhe mais importância. O Spotify usou, e o Airbnb pode aderir

Sérgio Teixeira Jr.

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NOVA YORK – O ano de 2019 foi um dos melhores dos últimos tempos nas bolsas americanas. O índice S&P 500 terminou 2019 em alta de incríveis 29%, e a bolsa eletrônica Nasdaq viu ganhos ainda maiores, de 35%, a melhor performance dos últimos seis anos. Mas a bonança não foi dividida de forma igualitária, muito pelo contrário.

Empresas que estrearam fazendo barulho no ano passado – como Uber e Lyft – foram uma grande decepção. Os IPOs das duas startups de transporte estavam entre os mais aguardados do ano passado, mas as empresas terminaram 2019 com suas ações muito abaixo do preço atingido no dia da estreia na bolsa.

Depois de anos esperando a chegada de certos unicórnios aos mercados públicos, os investidores decidiram que talvez eles não fossem negócios tão bons assim.

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Valores de mercado inflacionados, questões em relação à governança corporativa (especialmente depois do fiasco do WeWork) e um foco súbito em lucros, não em crescimento, mudaram o cenário para as startups que estão de olho em abrir o capital.

Em 2020 e além, espera-se que as listagens diretas, uma modalidade diferente de entrada na Bolsa, ganhem mais importância. Foi assim que o Spotify, empresa sueca que lidera o mercado global de streaming de música, decidiu colocar suas ações na Bolsa de Nova York.

IPOs, sigla em inglês para oferta pública inicial, são processos longos, caros e complicados. Bancos de investimento promovem roadshows, colocando os executivos da empresa diante de grandes investidores na expectativa de gerar interesse em torno da oferta.

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O preço inicial da ação também é definido conforme a demanda apurada nas semanas anteriores à listagem – uma decisão crítica, pois ele representa o número contra o qual o IPO será considerado um sucesso, ao menos no curto prazo.

Finalmente, o IPO também é uma maneira de levantar recursos, já que as companhias colocam em circulação novos papeis – e, para os grandes investidores institucionais que apoiaram a companhia na fase de amadurecimento, é uma excelente oportunidade de saída.

A listagem direta, por sua vez, é um processo muito mais simples. Não há o lançamento de novas ações – somente são negociadas na Bolsa as que já têm dono. Também não existem mecanismos que garantam que grandes quantidades de papeis troquem de mãos no primeiro dia.

Em outras palavras, se muitos acionistas quiserem vender e não houver compradores suficientes, o preço da ação pode despencar no primeiro dia.

A New York Stock Exchange apresentou às autoridades reguladoras uma série de mudanças em suas regras para permitir que as companhias que optem pela listagem direta também usem o mecanismo para levantar recursos mediante o lançamento de ações.

A Securities and Exchange Commission, órgão que regulamenta as bolsas americanas, recusou a primeira proposta apresentada pela NYSE – que já fez emendas ao pedido e aguarda uma nova decisão.

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A Nasdaq deve entrar com um pedido semelhante. “Já conversamos com a SEC, dado o interesse das empresas”, disse, ao semanário financeiro Barrons, Jeff Thomas, vice-presidente sênior da Nasdaq. “A expectativa é que entremos com um pedido no futuro próximo.”

Espera-se que várias startups de renome lancem ações este ano, incluindo o Airbnb, serviço de aluguel de casas que foi avaliado em US$ 35 bilhões em 2019, e os serviços de entrega DoorDash, Instacart e Postmates, entre outras.

Pelo menos Airbnb e DoorDash estão considerando a possibilidade de fazer listagem direta, em vez do tradicional IPO.

Mas é claro que, de acordo com as regras atuais, a listagem direta só faz sentido para empresas que não precisam levantar mais recursos – o que parece ser o caso do Airbnb. Brian Chesky, fundador e CEO da empresa, disse previamente que o Airbnb deu lucro em 2017 e 2018.

Outro apelo potencial da listagem direta para certas empresas é evitar ficar sob os holofotes durante o roadshow com investidores. Este seria um dos motivos do interesse do DoorDash, que compete em um mercado dominado por descontos e guerra de preços. Segundo a Bloomberg, a companhia estaria considerando a listagem direta, mas ainda não houve uma decisão.

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Os gigantescos aportes de capital de risco vistos nos últimos tempos também ajudam a entender o interesse pelas listagens diretas. A Slack, que produz um software de colaboração para clientes corporativos, levantou US$ 400 milhões em agosto de 2018.

Com dinheiro suficiente em caixa, a Slack decidiu abrir mão do IPO para entrar na Bolsa por meio da listagem direta, em abril do ano passado. A empresa foi a primeira startup tradicional do Vale do Silício a fazê-lo — e, ao que tudo indica, não será a única.

Sérgio Teixeira Jr.

Jornalista colaborador do InfoMoney, radicado em Nova York