Ibovespa ameniza queda no fim, mas não segue bom humor das bolsas globais

Mercado repercute fala de presidente do Fed e reduz o descolamento com relação ao exterior; reforma da previdência e flebilização da meta de superávit fazem preço por aqui

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Ibovespa amenizou perdas no fim do pregão desta quarta-feira (10) em meio ao discurso da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, ao Congresso dos Estados Unidos. As falas do Fed impulsionaram as bolsas no exterior diante das interpretações de que dificilmente o BC dos EUA vá elevar os juros no curto prazo. Apesar do impacto positivo de Yellen, nosso mercado seguiu em queda refletindo o desempenho dos ADRs (American Depositary Receipts) de ações brasileiras durante o feriado. O índice Brazil Titans 20 que reúne os principais e mais líquidos ADRs brasileiros, teve queda acumulada de 3,51%, com baixa de 2,26% na segunda e de 1,28% na terça, chegando aos 10.514 pontos.

O Ibovespa teve queda de 0,53% a 40.376 pontos, com um volume financeiro de R$ 3,291 bilhões. Para o sócio-gestor da Queluz, Rodrigo Otávio Marques, não ficou descartada na fala de Yellen uma elevação de juros em março, mas o discurso realmente animou os mercados por citar a atenção no mercado internacional. “Isso foi visto como positivo pelos mercados de risco. O Fed tem feito de turo para tentar reduzir ao máximo os impactos sobre o mercado financeiro, mas isso não significa que ela não vai fazer algum aumento”, diz o gestor.

Em seu discurso, Yellen disse que o aperto das condições financeiras provocado pela queda dos preços das ações, por incertezas sobre a China e pela reavaliação global dos riscos de crédito pode afastar a economia dos Estados Unidos de uma trajetória que de outro modo seria sólida. A fala reforça a análise de que a autoridade monetária pode realizar menos aumentos de juros este ano. 

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Enquanto isso, o dólar comercial subiu 0,65% a R$ 3,9355 na venda , enquanto o dólar futuro para março teve alta de 0,62% a R$ 3,954. Sobre o câmbio, o jornal britânico Financial Times publicou reportagem na edição impressa da última terça em que discute o valor da moeda brasileira. A matéria destaca a avaliação de alguns analistas que entendem que o real deveria se desvalorizar ainda mais e citam como referência o preço de R$ 5 por dólar. 

Diante da frágil situação econômica e com o segundo maior déficit público entre os grandes emergentes – atrás apenas da Arábia Saudita, a reportagem cita que parte do mercado entende que o dólar deveria “estar mais perto de R$ 5 do que de R$ 4”. O dólar fechou a sexta-feira a R$ 3,91. Para os ouvidos pelo FT, o elevado juro oferecido pela renda fixa brasileira e as intervenções do Banco Central mantêm a moeda nesse patamar.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2017 teve queda de 12 pontos-base a 14,42%, ao passo que o DI para janeiro de 2021 fechou estável a 15,90%. 

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Na agenda de indicadores, saiu hoje o Relatório Focus do Banco Central com a mediana das expectativas dos economistas para uma série de índices macroeconômicos. A previsão do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para 2016 subiu de 7,26% para 7,56% entre a semana passada e esta. Para 2017, o mercado ainda vê a inflação abaixo do teto da meta, com expectativas subindo de 5,8% para 6,0%. Para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2016 a previsão caiu de retração de 3,01% para recuo de 3,21%, enquanto para 2017 as projeções foram reduzidas de 0,7% de crescimento para 0,6% de avanço. 

Ações em destaque
As ações da Petrobras (PETR3, R$ 6,12, -4,23%; PETR4, R$ 4,31, -5,07%) despencaram após seus ADRs registrarem perdas de quase 10% durante o feriado. A queda do petróleo abaixo dos US$ 30 na segunda em meio às preocupações com o excesso de oferta global foi um dos principais drivers para o desempenho negativo dos papéis da petroleira.

Apesar disso, o petróleo hoje tem um dia de alta, impulsionado pelos estoques que saíram às 13h30, e mostraram uma queda de 800 mil barris. O barril do WTI (West Texas Intermediate) tem queda de 1,40% a US$ 27,55, ao mesmo tempo em que o barril do Brent registrava ganhos de 2,73% a US$ 31,15. 

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 RUMO3 RUMO LOG ON 2,17 -5,65 -65,22 4,79M
 PETR4 PETROBRAS PN 4,31 -5,07 -35,67 198,07M
 PETR3 PETROBRAS ON 6,12 -4,23 -28,59 72,29M
 USIM5 USIMINAS PNA 0,97 -3,96 -37,42 12,11M
 PCAR4 P.ACUCAR-CBDPN 40,10 -3,33 -4,20 30,04M

Já as ações da Vale (VALE3, R$ 10,20, -0,29%; VALE5, R$ 7,73, -0,77%) voltaram a operar em queda, repercutindo um relatório da ANZ dizendo que o preço da tonelada do minério de ferro deve cair novamente para baixo dos US$ 40 nos próximos meses. O research cita os elevados estoques da commodity na China como um dos motivos para o pessimismo com o minério.

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CMIG4 CEMIG PN 6,35 +9,11 +6,35 51,33M
 GOAU4 GERDAU MET PN 1,49 +6,43 -10,24 28,27M
 CESP6 CESP PNB 13,88 +3,97 +3,58 10,83M
 EMBR3 EMBRAER ON 28,59 +2,47 -5,30 23,29M
 CPLE6 COPEL PNB 23,95 +1,91 -1,44 5,92M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 ABEV3 AMBEV S/A ON EJ 17,94 -1,10 208,15M 224,80M 21.557 
 PETR4 PETROBRAS PN 4,31 -5,07 198,07M 333,18M 28.847 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN ED 24,92 +0,48 180,89M 348,26M 20.083 
 CIEL3 CIELO ON 30,51 -1,80 141,71M 192,55M 15.098 
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 19,78 +1,28 130,05M 283,21M 14.209 
 VALE5 VALE PNA 7,73 -0,77 127,18M 224,11M 15.574 
 BBSE3 BBSEGURIDADEON 24,00 0,00 97,69M 135,90M 13.505 
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 14,00 0,00 77,17M 78,17M 9.843 
 JBSS3 JBS ON 10,37 -1,98 75,53M 125,74M 13.959 
 BBAS3 BRASIL ON 13,69 0,00 73,32M 92,43M 9.982 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Entre as principais altas ficaram as ações da Embraer (EMBR3, R$ 28,59, +2,47%) com a notícia de que o Alaska Air Group escolheu a brasileira para fornecer cerca de 60 aeronaves regionais à empresa – que pretende estender seus serviços para além de sua base Noroeste Pacífico. A proposta de encomenda de 30 aeronaves E175 e 30 opções adicionais está avaliada em mais de US$ 2,6 bilhões a preços correntes, embora as companhias aéreas recebam grandes descontos, tipicamente. Os aviões serão operados pela subsidiária regional do Alaska Air Group, Horizon Air. 

Reforma na Previdência
Na tentativa de reorganizar as contas públicas, a equipe econômica do governo e a presidente Dilma Rousseff passaram a defender a necessidade de uma reforma na Previdência. Com pouca margem de manobra para cortar gastos, as mudanças no sistema previdenciário são encaradas como uma forma de o governo reconquistar a credibilidade na política fiscal de longo prazo.

A Previdência brasileira sempre foi considerada generosa para um país de renda média, como o Brasil, e a conta parece ter chegado. No ano passado, o déficit da Previdência foi de R$ 89,5 bilhões, bem acima dos R$ 56,7 bilhões de 2014. “O País foi tentando fazer reformas para mitigar o déficit previdenciário e ainda temos um problema para resolver”, afirma Fabio Klein, analista de contas públicas da Tendências Consultoria Integrada.

Por ora, a equipe econômica não apresentou nenhuma proposta concreta para reformar a Previdência, mas, ao longo dos últimos anos, os analistas têm apontado uma série de distorções no sistema brasileiro. O País está ficando mais velho, com o aumento da expectativa de vida, o que significa que haverá menos brasileiros trabalhando para sustentar cada vez mais trabalhadores aposentados.

PIB menor, meta menor
Além da fixação de um limite para a expansão dos gastos públicos, o governo federal discute a possibilidade de descontar da meta fiscal parte da queda da arrecadação de impostos em anos de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Dessa forma, a meta poderá ser ajustada ao ciclo econômico. A mudança em fase de elaboração faz parte da reforma fiscal que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, quer deixar pronta entre março e abril deste ano a ser enviada ao Congresso Nacional.

A ideia é ter um limite de gasto, segundo um integrante da equipe econômica, e a cada ano fixar uma meta de economia para o pagamento dos juros da dívida pública, o chamado superávit primário das contas públicas. Na prática, as mudanças introduzem na política fiscal brasileira um sistema de banda de flutuação para o esforço fiscal do governo, que poderá inclusive permitir déficits por conta de frustração de receita projetada.

A meta fiscal será uma só para cada ano. “Mas se tiver frustração de receita, poderá ser abatida da meta uma parte sem que haja aumento de gasto”, explicou a fonte. A mudança é para acomodar eventual perda de receita, cenário que vem ocorrendo nos últimos anos e que contribuiu para o rombo histórico de R$ 115 bilhões das contas públicas em 2015. “Teremos um limite de gasto intertemporal e a cada ano teremos uma meta, como é hoje”, disse o integrante da equipe econômica. O modelo está sendo desenhado também com mecanismos que evitem que excessos de arrecadação, além do projetado, funcionem como um gatilho para a elevação dos gastos.

Delação premiada da Andrade Gutierrez
Ainda no âmbito político, vale destacar o acordo de delação premiada de dois executivos da Andrade Gutierrez, entre eles o presidente da empresa, Otávio Azevedo, aceito pelo juiz Sérgio Moro, que já mandou soltar os dois na sexta-feira. Eles prometeram revelar, entre outras coisas, os negócios do esquema de corrupção da Petrobras, da construção de Angra-3 e Belo Monte e o financiamento da campanha da presidente Dilma em 2014. 

Moro autoriza inquérito para investigar sítio de Atibaia
O juiz Sérgio Moro autorizou a Polícia Federal a abrir um inquérito exclusivo para a investigação do sítio de Atibaia, frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família. A decisão atende a pedido da Polícia Federal como parte de inquérito que investiga supostos crimes praticados por executivos da empreiteira OAS. Os agentes pediram uma investigação exclusiva uma vez que as provas que envolvem outras companhias e pessoas físicas passaram a ser analisadas.

Lula vê novas opções para 2018
Pensando objetivamente na impossibilidade de candidatar-se à presidência da República em 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já passou a tratar as alternativas que o PT possui para o pleitoE, segundo informações do jornal Valor Econômico, em conversa há uma semana com um amigo não político, ele incluiu um novo nome na sucessão: o governador de Minas Gerais Fernando Pimentel.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.