Coronavírus: o vírus misterioso que abala a China e é o mais novo fator de risco para os mercados mundiais

Vírus é responsável por surto de pneumonia na China e já chegou aos EUA, aumentando temores de epidemia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Um novo fator de risco está abalando os mercados mundiais: trata-se do novo coronavírus, um “misterioso” vírus que levou ao menos a nove mortes na China, e atingiu mais de 400 pessoas.

Tal vírus levou ao surto de uma doença, que causa uma espécie de pneumonia, e está levando a Organização Mundial da Saúde (OMS) a preparar reunião de emergência e diversos países asiáticos e da Oceania a adotarem procedimentos de controle sistemático nas chegadas de voos procedentes das zonas de riscos. O coronavírus gerou ainda mais temores após a notícia de que é transmissível entre humanos e, mais ainda, com a notícia de que chegou ao Estados Unidos, elevando preocupações de uma epidemia mundial.

Um viajante, cuja identidade está sendo preservada, foi diagnosticado em Seattle, após chegar de Wuhan. Até o momento, a origem do vírus não foi identificada, mas acredita-se que tenha surgido de um animal, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Além da China e agora EUA, Japão, Tailândia, Taiwan e Coreia do Sul também já foram afetados.

Com essas notícias, o MSCI Emerging Markets Index registrou a sua maior queda em cinco meses nesta terça-feira (21), com baixa de 1,7%, enquanto as moedas emergentes também registraram baixas, capitaneadas pelo won sul-coreano e pelo peso colombiano. No Brasil, o Ibovespa teve queda de 1,54%, a 117.026 pontos, enquanto o dólar superou os R$ 4,20, na maior cotação desde dezembro.

Os coronavírus são uma família viral que causa infecções respiratórias de leves a graves, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que matou cerca de 800 pessoas no início do milênio.

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Por sinal, o episódio do SARS ocorrido em 2003 está sendo usado como parâmetro para os analistas de mercado e investidores entenderem qual pode ser o impacto do coronavírus na segunda maior economia do mundo, uma vez que abalou os mercados 17 anos atrás.

Com o Ano Novo Lunar agora no dia 25, o risco de contágio no país aumenta já que os chineses costumam viajar mais, aumentando o risco de contaminação.

Em relatório, os estrategistas do Credit Suisse apontam que, com base nas informações disponíveis até agora, a facilidade de transmissão é aparentemente menor que a de SARS. Portanto, o impacto poderia ser menor também.

Para eles, sobre China, tendo como base a experiência de 2003, o impacto negativo desse surto de doença provavelmente será limitado em termos de produção. Por outro lado, naquele ano, o impacto no consumo e no turismo foi muito significativo, uma vez que os turistas evitaram ir para o país  e os habitantes evitaram ir a áreas lotadas durante o pico do surto.

O crescimento das vendas no varejo no segundo trimestre de 2003 caiu acentuadamente, enquanto setores como hotéis, aéreas e lojas de departamento foram fortemente abalados. O impacto na economia de Hong Kong foi semelhante, com o varejo e o turismo sofrendo um grande golpe durante o pico da doença e só começando a melhorar no segundo semestre daquele ano.

“Antes da mudança na política do governo em 17 de abril de 2003, o mercado chinês teve um desempenho ruim, refletindo a fraqueza da economia e o medo do surto da doença atravessar a fronteira. Com a mudança de política e liberação de informações mais confiáveis e frequentes, que
mostrou o pico de novos casos, o mercado logo chegou ao fundo, e depois se recuperou fortemente na segunda metade do ano”, avaliam os estrategistas.

Assim, aponta o Credit, com base na trajetória de 2003, a expectativa é de que o mercado chinês será afetado negativamente no curto prazo. As ações chinesas negociadas em Hong Kong, por exemplo, tiveram sua pior performance diária desde outubro de 2018 na sessão desta terça-feira.

“Mas, se o governo puder garantir informações confiáveis ​​e atualizadas, é provável que o mercado fique menos volátil e se recupere à medida que sejam relatados declínios de novos casos”, apontam Vincent Chan e Wenting Yu, estrategistas do banco suíço. Na China, a expectativa é de que haja um impacto negativo para as ações de aéreas, de hotelaria e turismo, enquanto o setor de saúde pode se beneficiar.

As commodities, no momento, também estão sendo afetadas, ainda que de magnitudes diferentes. Os contratos futuros do petróleo fecharam em baixa. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o contrato do WTI para março caiu 0,34%, a US$ 58,38 o barril. Já o contrato do Brent para o mesmo mês recuou 0,94%, a US$ 64,59 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).

Na avaliação de Phillip Streible, da Blue Line Futures, o mercado de petróleo reagiu hoje à “possibilidade de declínio do consumo de energia devido ao impacto do coronavírus nas viagens de férias na China”.

Os contratos futuros de ouro também fecharam em queda com o temor de que as importações chinesas sejam afetadas, já que o país produz, mas também importa a commodity para suprir sua demanda interna.

Uma epidemia viral dentro da China poderia prejudicar a compra de ouro físico, em um período de pico de férias com milhares de chineses viajando para aproveitar as folgas do Ano Novo Lunar. É o que aponta o analista da FXTM Lukman Otunuga. “O surto certamente representa um risco econômico para a China e seus vizinhos próximos, especialmente se o turismo, as viagens aéreas e outras indústrias forem afetadas”, avalia o especialista.

O Commerzbank destaca, em relatório enviado a clientes, que a demanda por ouro na China já vinha em queda em 2019, como informou nesta terça a China Gold Association. “A demanda de ouro caiu 13% para cerca de 1.000 toneladas em 2019”, aponta o relatório, informando que a produção de ouro da China também caiu. “Com uma produção de 380 toneladas, a China continua sendo o maior produtor mundial de ouro. A China usa as importações para preencher a lacuna entre produção e demanda doméstica”, acrescenta o Commerzbank.

Sem tantos riscos nos EUA por enquanto…

Em meio aos temores, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano buscou tranquilizar os americanos após a confirmação do primeiro caso nos EUA.

Em relatório, a instituição explica que o nível de detalhamento da doença ainda não é claro. Segundo o documento, embora sintomas graves e mortes tenham sido relatados na China, alguns pacientes não apresentaram complicações e logo tiveram alta.

O CDC ressalta que não é tão comum que a disseminação desse tipo de vírus ocorra entre pessoas, como aconteceu com a síndrome respiratória aguda (Sars, na sigla em inglês) e a síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês), que são da mesma família do novo coronavírus.

“A confirmação de que uma limitada disseminação de pessoa para pessoa desse vírus está ocorrendo na Ásia aumenta o nível de preocupação, mas o CDC continua acreditando que o risco do 2019-nCoV para o povo americano, em geral, permanece baixo neste momento”, conclui.

… mas há mais focos no radar?

De qualquer forma, mesmo com os riscos aparentemente controlados, vale ressaltar que a China continua sendo o marco zero para o surgimento de muitas novas infecções perigosas, conforme aponta reportagem da Bloomberg. Mercados de produtos frescos, onde consumidores se misturam em espaços estreitos com aves vivas e cobras, são vistos como uma das principais razões.

A China fez progressos no monitoramento e detecção de doenças infecciosas desde a SARS e reforçou controles sobre a venda de animais exóticos, considerados nutritivos em algumas partes do país. No entanto, os mercados, que oferecem condições que podem desencadear contágios potencialmente fatais, continuam populares e são uma parte central da vida em muitas cidades da Ásia.

“As galinhas recém-mortas são muito melhores do que a carne congelada nos supermercados, se você quiser fazer uma canja perfeita”, disse um local chamado Ran, de 60 anos, à reportagem. “O sabor é mais rico.”

A preferência por carne in natura de animais que não foram colocados em quarentena de forma apropriada ou selvagens “torna a China suscetível ao risco de novos surtos de vírus por meio do contato próximo de animais e humanos”, disse Wang Yuedan, professor de imunologia da Escola de Ciências Médicas Básicas da Universidade de Pequim. “O mesmo se aplica ao ebola, que surgiu como resultado do consumo de animais da floresta na África.”

Por enquanto, o CDC americano faz algumas recomendações para que a população evite contrair a doença: as pessoas podem se proteger do vírus lavando as mãos com água e sabão, evitando tocar nos olhos, nariz ou boca e mantendo-se afastadas das pessoas doentes. Muitas pessoas na China também compraram máscaras para se protegerem do surto.

(Com Bloomberg, Dow Jones e Agência Estado)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.