‘Sociedade Anônima do Futebol dá segurança ao investidor’, diz o hoje empresário Ronaldo Fenômeno

Ex-atleta também afirma que liga entre clubes é caminho para evolução do esporte no Brasil

Lucas Sampaio

Ronaldo Nazário de Lima, ex-jogador de futebol e atual dono do Cruzeiro, participa da palestra de encerramento do 1º dia da Expert XP 2022 (Foto: Divulgação/XP)

Publicidade

A SAF (Sociedade Anônima do Futebol) é um caminho sem volta e talvez só o Corinthians e Flamengo, os dois clubes com as maiores torcidas do Brasil, consigam sobreviver a esse movimento, afirmou nesta quarta-feira (3) Ronaldo Nazário de Lima, o Fenômeno, durante a Expert XP,  em São Paulo (para acompanhar as palestras online ou presencialmente acesse aqui).

Ronaldo Nazário foi a estrela principal da palestra de encerramento do primeiro dia da Expert, que foi mediada pela apresentadora Glenda Kozlowski e por Pedro Mesquita, head de investment banking da XP (e responsável pela área que intermediou a venda do Cruzeiro, para o Ronaldo; e do Botafogo, para o americano John Textor).

O Fenômeno disse também no evento que as SAFs não são o único caminho para o futebol brasileiro, mas que a criação da liga “sem dúvida” é. “Não acho que [a SAF] seja o único porque no mundo há exemplos de clubes como o Real Madrid, que é uma associação, mas tem uma gestão profissional”.

Continua depois da publicidade

“Eu não vejo outro caminho a não ser a evolução do futebol brasileiro, a não ser a criação da liga. E você vê grandes empresas como a XP acreditando no futebol brasileiro, no potencial da indústria do futebol. A gente tem anos incríveis pela frente”, afirmou o ex-jogador e agora empresário. “Até o final do ano vamos ter um desfecho favorável para ter a criação de uma liga. É um outro passo para a profissionalização do futebol brasileiro”.

SAF e a liga

As SAFs foram criadas com o intuito de profissionalizar a gestão do futebol no Brasil, e nos últimos meses grandes clubes como o Cruzeiro, o Botafogo e o Vasco, que estavam em grave crise financeira, foram vendidos para empresários como Ronaldo (que também é dono do Real Valladolid, clube espanhol que disputa a primeira divisão do campeonato local).

Já a liga é uma tentativa de união dos clubes brasileiros para que eles — e não a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) — passem a organizar o Campeonato Brasileiro. As negociações são para que a liga seja formada pelos 40 maiores clubes do país (os que disputam as séries A e B do Brasileirão), enquanto a CBF continuará responsável pelas séries C e D, a seleção brasileira de futebol, a arbitragem e a Copa do Brasil.

“A SAF é uma saída muito interessante. Dá uma segurança jurídica muito grande para o investidor. Em um futuro próximo muitos clubes vão aderir à SAF. Talvez Corinthians e Flamengo consigam sobreviver a esse movimento, mas todos os outros clubes aos poucos vão virar SAF”, afirmou Ronaldo. “É um movimento sem volta. Os clubes hoje têm de trabalhar com profissionalismo”.

Compra do Cruzeiro

Ronaldo disse em sua participação no evento que não tinha a intenção de comprar o Cruzeiro — nem qualquer outro clube do país —, mas viu uma oportunidade. “Não tinha pretensões de fazer aquisições no Brasil, por não ter segurança jurídica até então. Mas mexeu comigo [a possibilidade] por causa do meu passado com o Cruzeiro”.

“Saí bem novinho de lá, foi o Cruzeiro que me abriu as portas para o mundo. Ter a possibilidade de fazer uma recuperação do Cruzeiro… Eu vi um potencial muito extraordinário — mas eu vi o tamanho da dívida também”, relatou um dos maiores jogadores de todos os tempos.

Gramados e a profissionalização do futebol

O Fenômeno também disse que “o nível do futebol brasileiro vai crescer muito” com gestão e citou como exemplo os gramados brasileiros. “O futebol brasileiro não tem um padrão de gramado para o futebol. Você joga no Sudeste e é um tipo de grama; você vai para o Nordeste e é outro; no Sul é outro. Parece uma coisa pequena, que é só o gramado, mas não é”.

“A velocidade da bola muda, o jogador também cansa de correr em uma grama mais fofa. Muitas vezes, a gente assiste o futebol brasileiro e acha que é mais lento. É por causa de um gramado que não é adequado”, afirma Ronaldo. No Campeonato Espanhol e na Premier Legue [o Campeonato Inglês], é protocolo que o gramado seja molhado por 10 minutos antes das partidas, para dar mais velocidade ao jogo. Para ser mais dinâmico, pra ter mais chances de gol. Nós não temos isso no Brasil”.

Ele cita também a venda dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro que, com a criação da liga, pode voltar a ser centralizado. “Isso aconteceu na Inglaterra, na Espanha. Os clubes todos vão ganhar de 30% a 40% mais dinheiro se venderem [os direitos de transmissão] juntos”. ”Tem muita coisa para ser feita no futebol brasileiro.”

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.