Janet Yellen: quem é a Secretária do Tesouro Americano

Gentil, conciliadora e altamente qualificada, ela orienta a recuperação da maior economia do planeta

Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos
Janet Yellen, secretária do Tesouro dos Estados Unidos (Foto: Alex Wong/Getty Images)
Nome completo: Janet Louise Yellen
Data de nascimento:13 de agosto de 1946
Local de nascimento:Nova York, Estados Unidos
Formação:Doutora em Economia
Cargos de destaque:Presidente do Fed, de 2014 a 2018, e atual secretária do Tesouro dos EUA

Quem é Janet Yellen?

A norte-americana Janet Yellen é economista formada pela Universidade Brown, com doutorado por Yale.

Em janeiro de 2021, ela tomou posse como secretária do Tesouro dos Estados Unidos – indicada pelo presidente Joe Biden –, após quase 50 anos de dedicação à vida acadêmica e ao serviço público, tendo acumulado diversos cargos relevantes.

Segundo especialistas, a escolha de Yellen para um cargo tão prestigiado premiou sua trajetória brilhante, além de representar uma conquista especial para as mulheres. É a primeira vez na história americana que um profissional passa a acumular no currículo o mais alto posto no Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, no Federal Reserve (Fed) e, agora, no Departamento do Tesouro.

Yellen esteve à frente da assessoria econômica americana de 1997 a 1999, durante o governo Bill Clinton. Entre 2010 e 2014, ocupou a vice-presidência do Fed, passando depois ao comando da instituição, na qual permaneceu por mais quatro anos.

Em novembro de 2020, quando ainda não havia sido aprovada para assumir o Tesouro dos EUA, a colunista Heather Long, do jornal The Washington Post, comentou a indicação. Chamou de pioneira a escolha de Biden e destacou que a economista tinha uma “longa carreira quebrando tetos de vidro para as mulheres e lidando com grandes crises”.

Disse ainda se tratar de uma líder já testada em batalha, que ajudou os EUA a se recuperarem da Grande Recessão de 2008.

Meses depois, em meio a um dos momentos mais delicados da pandemia de Covid que atingiu o planeta, ela se tornaria a primeira mulher a chefiar o Tesouro americano – repetindo a distinção já conquistada na presidência do Fed.   

De acordo com Long, ex-colegas frequentemente comparam Yellen à personagem Mary Poppins, uma babá com poderes mágicos, protagonista de um dos filmes clássicos da Disney, de 1964: firme, mas gentil, incrivelmente inteligente e sempre preparada.

Atualmente, ela tem lidado com o que alguns especialistas consideram um ponto de inflexão na economia americana. Além da conjuntura pós pandemia, que deixou um rastro de falências e desemprego, o cenário reúne dívida pública elevada, inflação preocupante e sanções econômicas à Rússia, por conta da guerra contra a Ucrânia.

No início de maio de 2023, o governo americano voltou a elevar o juro básico em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 5% e 5,25% ao ano – o maior patamar em mais de 15 anos.

Trajetória de Janet Yellen

Janet Louise Yellen nasceu em 13 de agosto de 1946, em Bay Ridge, Brooklyn, um dos bairros mais famosos de Nova York, cidade onde cresceu.

Sua mãe, Anna Ruth, era professora do ensino fundamental, enquanto seu pai, Julius, trabalhava como médico de família. Ele atendia os pacientes no andar térreo de onde moravam.

No ensino médio, Yellen foi editora do jornal da escola e concluiu o curso como a mais brilhante da turma. Mais tarde, se formou summa cum laude (com a maior das honras, em latim) em Economia na Universidade Brown, em 1967, obtendo o Ph.D. por Yale quatro anos depois. Na época, de acordo com o The Washington Post, era a única mulher da classe de doutorado.

Ela também recebeu doutorados honorários do Bard College, London School of Economics and Political Science e das universidades Brown, NYU, Baltimore, Michigan, Warwick e Yale – sendo que, nesta última, ganhou a medalha Wilbur Lucius Cross, em 1997, por realizações notáveis ​​em bolsas de estudos, ensino, administração acadêmica e serviços públicos.

Sua trajetória profissional começou em 1971, como professora assistente em Harvard, instituição na qual permaneceu até 1976.

Deixou a universidade para trabalhar como pesquisadora no Fed. Foi lá, no refeitório do banco central americano, que conheceu seu marido, o também economista George Akerlof – ganhador do Prêmio Nobel em 2001, juntamente com Joseph Stiglitz e Michael Spence.

Cerca de um ano depois, eles viriam a se casar e deixaram juntos o Fed, para se tornarem professores na London School of Economics, no Reino Unido.

Em 1980, Yellen ingressou no corpo docente da Universidade da Califórnia em Berkeley, na qual se tornou professora emérita Eugene E. e Catherine M. Trefethen em Administração de Empresas, na Haas School of Business, e em Economia.

“Nos 26 anos seguintes, ela ensinou milhares de alunos de MBA e de graduação em macroeconomia, economia e comércio”, diz a apresentação de Yellen na página da Berkeley Haas. “Sua pesquisa acadêmica concentra-se no desemprego e nos mercados de trabalho, nas políticas monetária e fiscal e no comércio internacional.”

Segundo a universidade, Yellen era amada por seus alunos e, em duas oportunidades (1985 e 1988), ganhou a maior honraria da escola, o Prêmio Earl F. Cheit de Excelência em Ensino.

Nessa época, começou a construir a reputação de importante macroeconomista, com trabalhos que abordavam principalmente as razões pelas quais as políticas do Fed afetam o crescimento econômico e o emprego.

Conforme informações de arquivo da Universidade Yale, Yellen foi a principal coautora de um estudo, elaborado em 1991, que previu o alto desemprego na Alemanha Oriental após a unificação.

Em 1994, Yellen foi escolhida por Clinton para integrar o Conselho de Governadores do Fed. Três anos depois, assumiria o Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, no qual permaneceu por dois anos, período no qual fez parte também do Comitê de Política Econômica da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Entre 2004 e 2010, atuou como presidente e diretora-executiva do Fed de São Francisco, na Califórnia. Segundo informações da BBC News, registros de reuniões do órgão indicam que, em 2005, ela aventou a possibilidade de os EUA estarem vivendo uma bolha imobiliária, o que viria a se confirmar dois anos depois.

“Ela foi uma das pessoas a soar o alarme, mas acho que, como muitos outros que viram o problema se aproximando, não percebeu sua magnitude”, disse Stiglitz, em entrevista à BBC. Ele foi professor de Yellen na pós-graduação e faz parte de seu círculo de amizades.

Em 2010, o presidente Barack Obama nomeou Yellen como vice-presidente do Fed, instituição que viria a presidir quatro anos depois, sucedendo Benjamin Bernanke.

Passagem marcante pelo Fed e mais desafios no Tesouro

Yellen esteve à frente do banco central dos EUA de 2014 a 2018, sendo uma das principais responsáveis pela reação econômica vista no período. Não à toa, já no primeiro ano do mandato, ficou em segundo lugar na lista da Forbes com as 100 mulheres mais poderosas do mundo.

Ao assumir o Fed, ela começou a reverter algumas das políticas adotadas em resposta à crise das hipotecas subprime de 2008. Entre as ações, supervisionou um programa de venda de títulos hipotecários e do Tesouro que a instituição havia comprado para estimular a economia.

Sua passagem também foi marcada pelo crescimento de empregos e salários, principalmente no período em que conseguiu manter os juros baixos.

A mudança na política monetária, no entanto, veio no fim de 2015, quando anunciou a primeira alta no juro básico dos EUA após quase uma década. A taxa, que era mantida entre 0 a 0,25% ao ano desde meados de 2006, passou para o patamar de 0,25% a 0,50% ao ano.

“Essa decisão marca o fim de um período excepcional de sete anos, durante o qual os juros foram mantidos em quase zero, a fim de sustentar a recuperação [pós crise de 2008/2009]”, disse ela, na oportunidade.

Durante sua gestão no Fed, a taxa de desemprego nos EUA recuou de 6,7% para 4,1%, o melhor resultado já obtido em qualquer outro período desde a Segunda Guerra Mundial.

Na opinião de Stiglitz, Yellen sempre demonstrou disposição para enfrentar Wall Street. “Ela não acredita na magia da autorregulação.”

Mesmo com números excepcionais e tendo classificado o trabalho de Yellen como “excelente”, o presidente Donald Trump optou por não reconduzi-la à presidência do Fed, quebrando uma tradição existente desde a década de 1970.

Tal decisão, em parte, teria ocorrido por achar que a economista, que tem cerca de 1,6 metro de altura, era “baixa demais para um cargo tão alto”, diz a colunista do Washington Post. Para seu lugar, o mandatário escolheu o advogado republicano Jerome Powell.

A indicação para a Secretaria do Tesouro ocorreu no fim de 2020. “Ela passou sua carreira focada no desemprego e na dignidade do trabalho”, disse Biden, conforme texto disponível no site do Tesouro dos EUA. “Ela entende o que significa para as pessoas e suas comunidades quando têm empregos bons e decentes.”

“Eu me considero uma economista pragmática e mainstream [convencional], com uma forte orientação política”, disse Yellen, em uma entrevista de 1995, de acordo com o Washington Post. O jornal lembra ainda que ela tem experiência em lidar com questões delicadas, como desigualdade, racismo, mudanças climáticas e regulamentação financeira.

Entre as habilidades interpessoais, um dos destaques é a capacidade de construir consenso. Frequentemente, é vista bebendo Coca-Cola diet em reuniões de trabalho, sempre com a gola aberta nos paletós, o que virou quase uma marca.

Antes de assumir o Departamento do Tesouro, Yellen foi uma Distinguished Fellow in Residence no Programa de Estudos Econômicos da Brookings Institution. Entre 2020 e 2021, atuou como presidente da Associação Americana de Economia.

Ela também integra a Academia Americana de Artes e Ciências, o Conselho de Relações Exteriores e o Conselho de Liderança Climática – do qual é uma das fundadoras.

Juntamente com Alan Blinder, é autora do livro “A Década Fabulosa: Lições macroeconômicas da década de 1990”, lançado em julho de 2001, no qual abordam as condições favoráveis que permitiram forte crescimento e baixo desemprego nos EUA, com a inflação tendo permanecido latente.

Discreta na vida pessoal, a comandante de um orçamento próximo de US$ 20 bilhões cita discussões profundas sobre economia como um de seus hobbies, nos jantares em família – concordando que outros convidados ficariam entediados à mesa.

Yellen e Akerlof têm um filho, Robert, que também é economista.

Saiba mais

Perfil de Yellen no site do Tesouro americano – https://home.treasury.gov/about/general-information/officials/janet-yellen

Perfil na página do Fed – https://www.federalreservehistory.org/people/janet-l-yellen

Perfil no site da Universidade Yale – http://archives.news.yale.edu/v28.n34/story1.html

Perfil no site da Berkeley Haas – https://haas.berkeley.edu/faculty/yellen-janet/