Dilma Rousseff: de militante contra a ditadura à primeira mulher Presidente do Brasil

A economista, que preside hoje o banco dos BRICs, também já liderou ministérios e secretarias regionais em sua trajetória política

Nome completo:Dilma Vana Rousseff
Data de nascimento:14 de dezembro de 1947
Local de nascimento:Belo Horizonte, Minas Gerais
Formação:Bacharel em Economia pela Universidade Federal do RS (UFRGS), concluiu os créditos de mestrado e doutorado em Economia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Ocupação:Presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD)
Principais cargos na vida pública:Presidente da República (2011 a 2016), Ministra-Chefe da Casa Civil (2005 a 2010), Ministra de Minas e Energia (2003 a 2005), Secretária Estadual de Minas, Energia e Comunicação do Rio Grande do Sul (1999 a 2002)

Em meados de abril, Dilma Rousseff tomou posse como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como “banco dos BRICS”, em Xangai, na China. Com mandato até julho de 2025, a ex-Presidente do Brasil é a terceira dirigente a comandar a instituição, tendo sido indicada para o posto pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante seu segundo mandato à frente da Presidência da República, Dilma protagonizou um dos cenários mais conturbados e polêmicos da política brasileira recente. Denúncias de corrupção na diretoria da Petrobras investigadas pela operação Lava Jato, acusações de improbidade administrativa (as chamadas “pedaladas fiscais”) e intensas manifestações populares culminaram no seu impeachment em 31 de agosto de 2016.

Na Câmara, a sessão que deliberou sobre a cassação de seu mandato contou com 367 votos a favor e 137 contra. Já no Senado, o impeachment teve 61 votos favoráveis, 20 contrários e nenhuma abstenção ou ausência.

Seis anos depois, em setembro de 2022, o Ministério Público Federal (MPF) arquivou o inquérito civil contra Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda do segundo governo Dilma. No entendimento do órgão, as supostas irregularidades que teriam dado origem às pedaladas fiscais (operações entre o Tesouro Nacional e bancos públicos como o BNDES, Banco do Brasil e Caixa Federal, que teriam ocorrido em 2015), não comprovaram a improbidade administrativa atribuída a Mantega, e que ocasionaram a perda do mandato da primeira mulher a ocupar a Presidência do Brasil.

Quem é Dilma Rousseff

Dilma Rousseff nasceu em 14 de dezembro de 1947 em Belo Horizonte, Minas Gerais. Filha do imigrante e engenheiro Peter Rusev (que se tornou Pedro Russeff quando veio da Bulgária), e da professora Dilma Jane da Silva, nascida em Resende (RJ), teve dois irmãos do casamento de seus pais – Igor e Zana – e um meio-irmão búlgaro chamado Luben, que não chegou a conhecer pessoalmente mas com o qual trocou cartas até sua morte, em 2008.

Dilma passou a infância e adolescência no bairro São Pedro, de classe média alta, na região centro-sul da capital mineira. Filha do meio, iniciou os estudos no tradicional Colégio Nossa Senhora do Sion, uma escola só para meninas e com rígida orientação católica. Nos anos 60, Dilma cursou somente parte do então curso ginasial no Colégio Sion. Quando a escola foi vendida e mudou de administração, ela foi para o Colégio Estadual Central de BH para fazer o clássico, curso indicado para quem queria seguir carreira na área de humanas.

O início da militância

A nova escola era conhecida como um reduto da militância estudantil da capital mineira. Foi lá que Dilma, aos 16 anos, despertou para a vida política, integrando organizações que combatiam o regime militar. Inicialmente, ela se aproximou da Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (Polop), grupo que se dividiu com o tempo, quando parte de seus integrantes passou a atuar na luta armada contra a ditadura militar.

Foi nessa época, logo após o golpe de 64, que Dilma conheceu o primeiro marido, o também mineiro Claudio Galeno. Na divisão do Polop, ambos aderiram à luta armada e se tornaram membros do Comando de Libertação Nacional, conhecido como Colina. Dilma não participava diretamente de ações militares, e sim na coordenação de grupos revolucionários. 

Em 1967, a jovem militante ingressou no curso de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e se casou em uma cerimônia civil com Claudio Galeno. Os dois vão morar em um apartamento no centro da capital mineira, mas a perseguição policial que se intensificou com o AI-5, em dezembro de 1968, fez com que tivessem que procurar outro lugar para morar. Não resistindo à pressão, o casamento acabou pouco tempo depois.

Prisão política de Dilma Rousseff

Dilma Rousseff não somente saiu de seu apartamento, mas também deixou a faculdade e sua cidade, devido à perseguição política. Depois disso, viveu na clandestinidade no Rio de Janeiro e em São Paulo, adotando diferentes codinomes como Estela, Luiza, Wanda, entre outros. 

Durante esse período, conheceu o advogado gaúcho e também militante Carlos Franklin Paixão Araújo. Eles passaram a viver juntos na clandestinidade, trocando com frequência de lugares e nomes até que, em janeiro de 1970, Dilma é presa ao chegar em um bar que era ponto de encontro da militância, na região central de São Paulo. 

Por 22 dias, Dilma foi torturada na sede da Operação Bandeirantes (Oban) e no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). A Oban funcionava na 36 ͣ  delegacia de polícia da capital, e foi um centro de informações criado por José Canavarro Pereira, comandante do 2° Exército. O local ficou conhecido como o maior centro de tortura e assassinatos da ditadura militar brasileira. 

Dilma foi condenada a seis anos de prisão e teve seus direitos políticos cassados por dez anos. Cumpriu pena no presídio Tiradentes, conhecido como “torre das donzelas”, que reunia um grupo de presas políticas. Após quase três anos na cadeia, conseguiu redução da pena e foi solta em 1972. 

Tempos depois, o presídio foi derrubado para construção de uma estação do metrô. O local serviu de inspiração para o documentário “Torre das Donzelas”, de Suzzana Lira, lançado em 2018.

Carreira política

Quando saiu da prisão, Dilma se mudou para Porto Alegre (RS) em 1973, onde recomeçou a vida na casa dos sogros enquanto esperava pela liberdade do marido, também detido pela ditadura. Nesse período, ela retomou os estudos e prestou novo vestibular para Economia, dessa vez na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Em 1975, começou a trabalhar como estagiária na Fundação de Economia e Estatística (FEE) do RS. Um ano depois, nasceu Paula Rousseff Araújo, a única filha do casal.

Dilma concluiu o curso de Economia em 1977, e dois anos depois começou a trabalhar na campanha pela Anistia, com os militares ainda no poder. Em 1980, ao lado do marido, ajudou a fundar o Partido Democrático Trabalhista (PDT), cujo principal expoente viria a ser Leonel Brizola, ferrenho defensor do trabalhismo, ideologia que surgiu no Brasil na década de 30 e que era popular antes da ditadura militar.

De 1980 a 1985, Dilma assessorou a bancada estadual do PDT. Um ano depois, assumiu o cargo de Secretária da Fazenda, a convite do então prefeito de Porto Alegre, Alceu Collares.

Em 1989, Dilma participou da campanha de Leonel Brizola ao Planalto, na primeira eleição presidencial direta depois da ditadura. Na ocasião, ela era diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre. No segundo turno, apoiou o então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que perdeu a disputa para Fernando Collor de Mello.

Em 1993, Alceu Collares iniciou o mandato como governador do RS e Dilma assumiu a Secretaria de Minas, Energia e Comunicação do estado, órgão no qual ficou até 1994. Em 1998, retoma os estudos na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mas a agenda política cheia a impediu de defender sua tese de doutorado em Economia.

Em 1999, Dilma retornou à Secretaria de Minas, Energia e Comunicação, mas dessa vez sob o governo de Olívio Dutra, eleito pela aliança entre PDT e PT. Um ano depois, os dois partidos romperam no RS, e Dilma ingressou no PT em março de 2001.

Em 2002, Dilma foi convidada a participar da equipe de transição que antecedeu o primeiro mandato do Presidente Lula. No entanto, o seu trabalho no governo do RS já vinha chamando atenção do petista, visto que o estado foi um dos poucos que não sofreram com a crise do apagão, que afetou a distribuição de energia elétrica no segundo semestre de 2001. Com a posse de Lula, Dilma se tornou Ministra de Minas e Energia, cargo que ocupou de 2003 a 2005.

Durante o período em que comandou a pasta, criou o marco regulatório que reformulou as práticas do setor energético. Outras importantes ações de sua gestão foram a introdução do biodiesel na matriz energética do Brasil e a criação do “Luz para Todos”, programa que deu acesso à energia a milhões de municípios rurais de todas as regiões.

Em 2005, as investigações e denúncias sobre o esquema do mensalão ocasionaram a demissão de José Dirceu, chefe da Casa Civil do governo Lula. Na ocasião, Dilma foi convidada a assumir a chefia do ministério, no qual passou a coordenar programas estratégicos para o governo. Um dos mais importantes foi o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que tinha o objetivo de desenvolver áreas vitais para a população, como energia e infraestrutura. Dilma também liderou o “Minha Casa, Minha Vida”, e atuou fortemente na definição das regras para a exploração das reservas do pré-sal, que recém haviam sido descobertas.

De certa forma, todas as ações coordenadas por Dilma à frente da Casa Civil acabaram sendo uma preparação para a sucessão de Lula em 2010. Dessa forma, em 31 de outubro daquele ano, tornou-se a primeira Presidente da República mulher, com quase 56 milhões de votos. Na disputa, venceu José Serra (PSDB) por aproximadamente 56% a 45% dos votos válidos.

Em 2015 conseguiu se reeleger, porém em uma disputa mais tensa do que a primeira e com margem menor. Dessa vez, obteve quase 52% dos votos válidos contra pouco mais de 48% do adversário Aécio Neves, senador do mesmo partido de Serra.

Impeachment de Dilma Rousseff

O segundo mandato de Dilma Rousseff iniciou sob um cenário bem mais complicado. Na verdade, o seu primeiro governo já havia sofrido os reflexos da crise econômica mundial, que teve seu ápice em 2008 nos EUA e se espalhou pelo mundo nos anos seguintes. 

O contexto exigia socorro às finanças públicas globais, e foi exatamente o que Lula fez por aqui nos últimos anos de seu segundo mandato. No entanto, além do aumento dos gastos públicos, a queda nos preços das commodities a partir de 2010 também atingiu em cheio a fragilizada economia brasileira. 

Para completar a tempestade perfeita, veio a Operação Lava Jato em 2014, que turbinou as manifestações populares contra o governo iniciadas cerca de um ano antes. Sem o apoio do Congresso, Dilma não conseguia aprovação para ações que pudessem contornar a crise financeira, que se tornava cada vez mais preocupante.

Por fim, a justificativa para o impeachment acabou sendo a acusação de improbidade administrativa em suposta operação de crédito entre o Tesouro Nacional e bancos públicos, que visava melhorar artificialmente as contas públicas. Com a saída de Dilma, o vice-presidente Michel Temer assumiu a presidência.

Ao deixar a presidência, Dilma manteve seus direitos políticos. Em 2018, tentou retornar à vida política como senadora por Minas Gerais, mas não conseguiu ser eleita.