Para quem não sabe o que é o cheque especial, eis uma pista: quando alguém está sem saldo em conta corrente, mas precisa fazer uma compra urgente e passa no débito do mesmo jeito, acaba “entrando no vermelho”. Esse valor, que cobriu a compra, na verdade, vem do cheque especial, uma linha de crédito pré-aprovada pelo seu banco.

Esse empréstimo pode ser a “salvação” em momento de aperto, mas cobra (caro) por isso. Com uma alta disponibilidade e elevadas taxas de juros, afinal, o cheque especial é um mocinho ou vilão da vida financeira dos consumidores? Existe um limite máximo para esse empréstimo? Quais são as vantagens e desvantagens? Como ele funciona? Descubra todas as respostas neste guia do InfoMoney.

O que é o cheque especial?

O cheque especial é um crédito pré-aprovado disponibilizado pelas instituições financeiras. E está presente nas contas correntes da maioria dos brasileiros. O limite desse empréstimo é aprovado desde o momento da abertura da sua conta corrente, mesmo sem uma solicitação expressa pelo titular da conta, e pode variar segundo a relação do consumidor com a instituição financeira.

Como fica disponível na conta para fácil acesso, o cheque especial pode acabar sendo usado como uma extensão do próprio salário, representando uma saída financeira para situações emergenciais ou acessada quando não há saldo suficiente para cobrir saques ou realizar o pagamento de contas agendadas.

Apesar de se enquadrar também como um empréstimo, o cheque especial é um tipo pré-aprovado. Diferentemente das outras linhas de crédito, depois que o limite máximo é aprovado pelo banco, não haverá necessidade de análise de crédito todas as vezes que ele for acessado. Além disso, o cliente não receberá um contrato com as informações detalhadas sobre as taxas e encargos que serão cobrados. Porém, justamente por ser uma linha sem exigência de garantias, os juros cobrados são mais elevados que aqueles praticados em linhas de longo prazo.

Como funciona o cheque especial?

Para entender melhor como funciona, veja o exemplo a seguir: você tinha R$400 na conta corrente, mas precisou pagar um boleto de R$550,00. Ao realizar o pagamento, você terá usado R$150,00 do valor disponível do cheque especial. Ou seja, você pegou um empréstimo no banco.

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Essa quantia emprestada será devolvida com juros assim que entrar algum dinheiro na conta. Sim, depois que você entrar “no vermelho”, qualquer valor depositado na sua conta será usado pelo banco para quitar parcial ou totalmente o empréstimo, mesmo que aquele dinheiro esteja destinado a outro pagamento. 

Como qualquer outro empréstimo, o cheque especial é sujeito à cobrança de juros. Além disso, será cobrado IOF, Imposto sobre Operação Financeira, durante o período em que estiver aberto.

As informações sobre o cheque especial, que também levar o nome de LIS (Limite Itaú para Saque) ou cheque azul, devem ser divulgadas no extrato da conta corrente. No papel impresso na agência bancária ou através do extrato do aplicativo do banco, o usuário consegue acessar o limite, valores a serem cobrados na data escolhida para o débito dos juros, entre outros dados.

Regras do cheque especial

A facilidade de acesso e a falta de informação – inclusive sobre os juros – e até a publicidade em torno do nome “especial” levava muitas pessoas a usar o crédito.

Com o objetivo de melhorar o relacionamento entre bancos e clientes, e fazer com que as pessoas usem a linha de crédito de uma forma mais consciente, em 2018 a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) implementou diversas alterações nas regras do funcionamento do cheque especial.

  • Aviso: O banco precisa enviar notificações assim que o cliente entra no cheque especial. Então, se você passou um pagamento com cartão de débito, mas não tinha dinheiro em conta, saberá que “passou” do limite;
  • Extrato: Na descrição do extrato deve estar separado e discriminado o que é o limite do cheque especial e o que é o saldo disponível de uma maneira clara. Se você acompanhar o seu histórico bancário, diminuirão as chances de entrar no limite sem necessidade;
  • Negociação: Os clientes podem entrar em contato com a instituição financeira para negociar melhores condições de pagamento. Caso sua dívida tenha atingido um patamar muito alto por causa dos juros, existe a chance de renegociação do pagamento de forma mais acessível;
  • Modalidade mais barata: Se a dívida com o cheque especial for superior a 15% do seu limite de crédito por mais de 30 dias, o banco deve oferecer outra linha com juros menores. Essa oferta deve ser feita em até 5 dias úteis depois que a instituição constatar a situação. Se passar desse prazo e você não tiver sido contactado, converse com o responsável pela sua conta bancária. Caso não resolva, fale com a ouvidoria do banco, mas se em 15 dias a situação não mudar, procure o Banco Central, a Febraban ou o Procon.

Qual é o prazo para pagar o cheque especial?

Não existe um prazo fixo para o pagamento de comum acordo com todas as instituições financeiras. Mas alguns bancos oferecem um tempo de 10 dias para pagar o cheque especial sem acréscimo de juros sobre o valor. Porém essa condição só é oferecida sob algumas circunstâncias, como por exemplo, número mínimo de cadastros em chave Pix.

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Além disso, é importante saber que, por

mês, existe um valor máximo que pode ser gasto do seu limite bancário. Então, se você pretende utilizar esse empréstimo por alguns meses, é ideal não gastar mais do que o banco te empresta mensalmente. Outra alternativa é usar outras linhas de crédito mais baratas como consignados, empréstimo com garantia de bens (casa, carro) e empréstimos tradicionais oferecidos pelo gerente do banco, que pode conseguir condições melhores para os clientes.

Quais são os juros do cheque especial?

De acordo com informações do Banco Central, no Brasil as taxas de juros anuais da modalidade variam entre 31% até mais de 250%.

O cheque especial é uma das modalidades de crédito mais fáceis de acessar, mas também é uma das opções  mais caras do mercado. Esse é, afinal, o preço que se paga para acessar uma linha de crédito sem oferecer garantias.

Em geral, instituições financeiras menores cobram taxas mais baixas no cheque especial enquanto bancos maiores costumam cobrar taxas mais elevadas.

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E ainda pode haver uma cobrança extra. De acordo com a determinação do Conselho Monetário Nacional de 2020, os bancos podem cobrar uma multa de 0,25% quando a pessoa usar mais de R$500 do cheque especial. Como a cobrança é facultativa, vai depender da instituição financeira aplicar ou não essa taxa.

Como aumentar o limite do cheque especial

O cheque especial é uma linha de crédito pré-aprovada baseada na análise de crédito de cada cliente, que leva em consideração a renda mensal, profissão, nível de escolaridade, a existência ou não de restrições no nome. Portanto, para aumentar o limite do cheque especial é preciso entrar em contato com o banco, pelo aplicativo, internet banking ou indo até uma agência bancária, e solicitar a aprovação de uma linha de crédito maior – o que pode não acontecer, depende do histórico de crédito de cada cliente.

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Depois de fazer a solicitação, o banco fará uma análise do seu perfil como cliente e responderá se é possível aumentar ou não o seu limite. Se você não tiver o nome sujo ou restrições no seu CPF, as chances da ação dar certo são maiores.

Ter um bom Score de Crédito também pode facilitar o aumento do limite e fazer o cadastro positivo é uma forma de mostrar às instituições financeiras um pouco do seu histórico como consumidor.

Como cancelar o limite do cheque especial

Caso o cliente não tenha mais interesse no limite pré-aprovado, pode solicitar o cancelamento da linha de crédito. A maioria dos bancos permite que o cancelamento seja feito de diferentes formas, como por internet banking, aplicativo oficial da instituição, telefone, através do atendimento ao cliente (SAC), ou pessoalmente na agência.

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Além disso, é importante também guardar o extrato bancário que comprove a operação de cancelamento do cheque especial por cinco anos. Assim, se houver alguma cobrança indevida nesse período, você terá como provar que pediu o cancelamento do serviço e não pagará nenhuma conta relacionada ao cheque especial.

Como pagar cheque especial

O pagamento do cheque especial é bastante simples. Para quitar a dívida, basta depositar o valor necessário para cobrir a dívida na própria conta corrente. Se a dívida for grande demais, no entanto, o ideal é negociar o pagamento com o banco.

O parcelamento pode ser uma opção na hora da negociação. E, para isso, a quantidade de parcelas e juros cobrados devem ser informados pela instituição financeira. Se depois de acertar as contas, você achar que seu limite do cheque especial está alto demais, pode pedir uma redução do teto de gasto.

Usar o cheque especial oferece riscos? Quais?

A taxa de juros do cheque especial pode ser informada em valores mensais ou anuais, mas os juros cobrados, na verdade, são diários. Como possui uma das mais altas taxas de juros do mercado e acesso fácil, um dos maiores riscos é o de perda de controle financeiro do consumidor.

Usar o cheque especial com muita frequência é outro risco para o usuário. Se entrou nesse ritmo, tente parar e refletir sobre as suas contas. Liste quais são essenciais e quais podem ser tiradas até regularizar a situação do cheque especial. Por exemplo, se você paga academia, mas vai apenas duas vezes no mês, talvez seja hora de cancelar sua inscrição no local.

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Dívidas do cheque especial: como evitá-las?

Para não se endividar com o limite do cheque especial, veja as dicas abaixo:

Faça um planejamento financeiro

Entenda o quanto pode gastar com cada despesa e dívida, para sair do cheque especial. Se descobrir algum gasto que pode ser retirado da lista, use esse valor para pagar uma parte maior do empréstimo;

Tente negociar o valor

Quanto mais tempo passar, maior será o valor da dívida com o banco. Por isso, converse com o gerente para negociar o débito, por exemplo, pedindo a cobrança de juros menores;

Troque uma dívida cara por outra mais barata

Com o crédito consignado você consegue pegar um empréstimo a juros menores para quitar o cheque especial, a outra dívida que tem juros maiores;  

Lembre-se o que é crédito e o que é receita

É importante ter em mente que, embora apareça como um limite disponível na conta, o valor do cheque especial não faz parte da renda mensal. Então tente gastar somente o que é receita (salário);

Observe as movimentações da conta corrente

Se você tem contas programadas para serem pagas em determinados dias, o ideal é sempre ter saldo suficiente para que elas sejam pagas nas datas corretas e assim não caiam direto no cheque especial;

Se puder, não compre por impulso

Caso tenha vontade de comprar alguma coisa que não seja essencial, pense se você realmente precisa daquele item ou se a compra pode ser adiada até o recebimento do salário. Fazendo isso, evitará gastos por impulso e o uso do cheque especial sem necessidade.

Vantagens e desvantagens

Apesar das taxas altas, o cheque especial não é um vilão: é um instrumento financeiro que tem suas vantagens e desvantagens. Conheça algumas delas.

Vantagens de usar o cheque especial:

  • Facilidade de conseguir crédito: O próprio banco deixa um determinado valor disponível por mês para o cliente utilizar como cheque especial, de acordo com a sua renda. Dependendo do banco, se o cliente usar e pagar o empréstimo até o 10º dia, não pagará juros;
  • O cliente não precisa oferecer garantia de pagamento: Se o cheque especial foi aprovado, você não precisará dar nenhuma garantia antes de usá-lo;
  • Dinheiro disponível que pode ser movimentado automaticamente a qualquer momento: A qualquer instante você poderá usar o valor do limite para pagar contas, fazer transferências e/ou sacar nos caixas eletrônicos;
  • Dinheiro na mão para emergências: Se você não tem um valor guardado para usar em emergências, o cheque especial pode te ajudar a atender um parente doente ou te auxiliar caso o salário não caia no dia previsto. Mas é importante não fazer disso um hábito.

Desvantagens de usar o cheque especial:

  • Os juros são cobrados diariamente: Em razão disso, o valor final do empréstimo será muito influenciado se houver atraso no pagamento;
  • Facilidade de acesso pode criar um mau hábito: Por ser um empréstimo simples de acessar, o consumidor pode criar o hábito de recorrer a ele mais vezes, chegando até o limite de não saber pagar as contas ou fazer comprar sem usar o cheque especial;
  • Se não souber usar, vai se endividar: Quando você não usa o cheque especial com cuidado, pode se endividar;
  • Limite muito alto pode atrapalhar: Quem tem um valor alto para usar no cheque especial, pode se sentir mais valorizado pelo banco e com isso se sentir mais à vontade para gastar todo o dinheiro do limite;
  • Não é urgente, mas você usou o limite: Se você começar a usar o cheque especial em qualquer situação e não pagar rápido, vai sofrer com juros bancários;
  • Quanto mais contas abertas, pior a situação: Quem tem mais de uma conta corrente, pode se sentir muito mais tentado a utilizar o cheque especial disponibilizado pelas instituições financeiras. Com isso, aumenta o risco de se endividar ao pegar emprestado mais do que pode pagar e se tornar um inadimplente.

Alternativas

Se você não quiser ou não puder mais arcar com os altos juros do cheque especial, procure alternativas de empréstimos bancários mais baratos e acessíveis. Os empréstimos pessoais podem ser uma alternativa para acessar a quantia desejada de forma rápida para pagar dívidas ou resolver outras questões financeiras.

Também existem opções de empréstimos online, oferecidos por diferentes bancos e instituições financeiras, com taxas mais baixas e maior prazo de pagamento. Mas antes de fazer qualquer pedido de empréstim , pesquise bastante sobre a idoneidade da instituição financeira e entenda as condições de pagamento a médio e longo prazo.

Outra alternativa para sair do cheque especial pode ser colocar um bem como garantia de pagamento. Quando pedimos empréstimos com garantia, as chances de conseguir condições melhores de taxas de juros aumentam. 

O crédito consignado privado, pode ser uma outra oportunidade, porque oferece taxas de juros menores. Essa condição é possível porque as parcelas do empréstimo são descontadas diretamente da folha de pagamento. Com o consignado, o cliente terá menor possibilidade de virar um inadimplente e a possibilidade de acessar políticas de crédito melhores e mais flexíveis.