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No último bear market, as ações da Amazon caíram 60% - isso pode acontecer novamente?
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Eu realmente acho importante que investidores saibam em que estão investidos. Por incrível que pareça, muitas vezes isso não acontece. Com o advento das ETFs (tema que abordarei mais profundamente em posts futuros), isso tem se tornado cada vez mais um mistério. Com isso, vários investidores acabam comprando sempre os mesmos nomes, o que faz com que essas empresas, em um primeiro momento, subam indefinidamente.

Infelizmente, o reverso também é verdade quando um bear market se inicia, ou seja, as queridinhas do mercado, nas quais todos estão investidos, passam a ser a “bola da vez”, fazendo com que mais e mais investidores sejam obrigados a vender o que eles compraram sem saber.

Primeiramente, as pessoas acreditam que suas ideias são imbatíveis e que nada pode dar errado. Então começam a comprar ações deliberadamente sem se preocupar com o preço, usando qualquer desculpa à disposição. Seja a FED put, nova tecnologia, nova era. Enfim, sempre há uma justificativa para a compra.

Pois gostaria de lembrar que as árvores não crescem até o céu. O que está sustentando as ações nesses níveis é mais a ganância e falta de consideração pelo risco do que propriamente o mérito das empresas.

Hoje a Amazon, gigante varejista e membro das famosas FAANGs, tem um índice PL (preço/lucro) acima de 280 e 43 dos 47 analistas que a acompanham tem uma recomendação de compra.

O fluxo de caixa livre vem caindo consistentemente nos últimos trimestres e saiu de pouco mais de US$3,2 bilhões no primeiro trimestre de 2017 para US$3 bilhões negativos no primeiro trimestre de 2018, segundo relatório da própria empresa.

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Como já mencionei antes, é sempre durante o período de bonança que os maus investimentos são feitos. E tais investimentos são mais fáceis de acontecer em setores considerados de “crescimento”.

Pois hoje temos bilhões sendo investidos em setores como infraestrutura para nuvem (cloud), inteligência artificial e veículos com piloto automático. Nvidia, uma empresa que está vivendo um hype absurdo, é uma das mais favorecidas com esses novos investimentos. Também falarei sobre ela mais tarde.

Mas esse não é o problema. Os grandes usuários de cloud são empresas que não dão lucro e por isso mesmo não têm recursos para montar sua própria infraestrutura.  Mais de 75% dos IPOs nos últimos meses foram de empresas que não dão lucro! E todas são clientes Amazon Web Services ou Microsoft Azure ou Google. Isso não vai acabar bem.

Olhando para a bolha da internet, no final da década de 90, vimos que quando as empresas de internet começaram a cair no começo de 2000, os investidores de tecnologia entraram nos mesmos nomes, todas grandes empresas (na época, pelo menos), como Cisco, Intel, Microsoft, Nokia e Oracle. Só a partir de setembro que esses grandes nomes começaram a cair, mas o fizeram de maneira majestosa: Intel (-82%), Cisco (-88%), Microsoft (-62%) Oracle (-83%), Nokia (-79%).

Em 2007, a Amazon já era uma potência e passou quase que incólume ao bear market que se sucedeu, até que a recessão obrigou seus clientes a cortar seus gastos. Do meio de agosto até o meio de novembro, as ações da empresa caíram mais de 60%. Naquela época, ela era negociada a um múltiplo de 60 vezes o lucro – hoje, como mencionei acima, está em 286! Para voltar ao PL de 60, topo do último bull market, as ações teriam que cair 79%! Obviamente, essa não é uma previsão ou desejo, apenas uma constatação.

Hoje a Amazon é ainda maior e ainda mais exposta ao setor de retail do que era em 2007-08 e, consequentemente, mais exposta ao corte de gastos por parte do público. Se os consumidores forem obrigados a cortar gastos, o baque será mais forte. Basta um pequeno profit warning para que as ações se desmoronem.

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Há ainda o grande desafeto da empresa, o presidente Trump, que tuitou no final do ano passado e novamente há poucos meses algo como “Por que os Correios americanos, que estão perdendo bilhões todos os anos, cobram pouco da Amazon para entregar seus pacotes? Estão fazendo a Amazon mais rica e os Correios mais pobres. Deveria cobrar muito mais”.

Mais uma vez, não estou dizendo que as ações da Amazon vão despencar. Meu ponto é que essas empresas, e ela em particular, estão precificadas para a perfeição, o que raramente acontece. Trade carefully.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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